O descontentamento da juventude angolana com o atual Executivo ganhou voz e corpo esta quarta-feira, durante uma conferência de imprensa realizada no auditório das Irmãs Paulinas, em Luanda. Reunidos sob uma plataforma conjunta, representantes de diversas organizações juvenis acusaram o governo liderado por João Lourenço de negligenciar, marginalizar e instrumentalizar os jovens do país.
A conferência foi organizada por uma coligação de movimentos e estruturas juvenis, entre os quais o Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), a Juventude Nacional para a Libertação de Angola (JNFLA), a Juventude do Partido de Renovação Social (JURS) e a Juventude do Bloco Democrático. O objetivo: denunciar o que os jovens consideram ser o “estado real da juventude angolana”.
Francisco Teixeira, presidente do MEA, não poupou palavras ao apelar por um novo posicionamento da juventude: mais ativo, mais pressionante. “A juventude angolana está cansada de promessas vazias. Chegou a hora de deixar os discursos e partir para ações concretas”, declarou. Teixeira defendeu a intensificação da pressão sobre o Governo, não apenas por vias institucionais, mas também através de manifestações públicas e ações de rua.
Durante o encontro, os líderes destacaram três áreas críticas que afetam diretamente os jovens angolanos: educação, empregabilidade e acesso à habitação. A escassez de escolas, aliada ao fraco investimento no setor educacional, tem deixado milhares de jovens fora do sistema de ensino.
No que toca ao mercado de trabalho, a ausência de políticas eficazes para integrar os jovens na economia tem agravado os níveis de desemprego juvenil. Jaime Vunge, representante da JURS, defendeu um reforço significativo na formação técnico-profissional, como meio de preparar os jovens para os desafios do setor produtivo.
A habitação também foi alvo de fortes críticas. Os jovens afirmaram que a maior parte da população juvenil não tem acesso à casa própria, devido ao elevado custo dos materiais de construção e à inexistência de crédito bonificado. Francisco Teixeira foi mais longe ao denunciar que cidadãos estrangeiros têm mais facilidade de acesso ao crédito do que os próprios angolanos. “O cidadão nato deve ser prioridade nas políticas de financiamento”, argumentou.
Os representantes repudiaram também a alegada partidarização das políticas de juventude, acusando o Ministério da Juventude e Desportos, liderado por Rui Falcão, de privilegiar apenas os jovens ligados ao MPLA. “A juventude é uma só, e não pode continuar a ser tratada segundo filiações partidárias”, afirmou Adilson Manuel, da Juventude do Bloco Democrático.
No final da conferência, os líderes reafirmaram o compromisso da juventude com a luta por melhores condições de vida. Reforçaram que continuarão a recorrer ao diálogo e à manifestação pacífica como formas legítimas de reivindicação. “A juventude não é apenas o futuro — é o presente do país, e exige ser ouvida e incluída nas decisões que moldam Angola”, concluiu a plataforma.