Durante o seu depoimento no Tribunal Supremo, em Luanda, o general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, mais conhecido como “Kopelipa”, afirmou que o Estado angolano não sofreu qualquer prejuízo decorrente das ações do Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN), instituição que liderou entre 2004 e 2010. Segundo ele, os projetos atribuídos ao GRN foram executados conforme mandato governamental, sem qualquer prática lesiva.
O papel do GRN e as acusações em julgamento
Criado para coordenar os esforços de reconstrução do país após o fim da guerra civil em 2002, o GRN está agora no centro de um processo judicial que envolve acusações sérias como tráfico de influência, lavagem de dinheiro, peculato, falsificação e associação criminosa. Kopelipa é um dos réus, juntamente com figuras como Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino” e empresários chineses, além de empresas ligadas ao setor de habitação e construção, como a CIF Angola.
O julgamento, que teve início a 10 de março, está em fase intensa de interrogatórios. Nos últimos dois dias, Kopelipa respondeu por horas às perguntas da juíza relatora Anabela Valente, do Ministério Público e da sua defesa. Apesar da tensão do processo, houve momentos descontraídos, como quando o general questionou o tribunal sobre a forma correta de se referir ao seu advogado, arrancando sorrisos dos presentes.
Entre os temas centrais do interrogatório está a relação entre o GRN e a empresa chinesa CIF. O tribunal questionou sobre um suposto empréstimo de 150 milhões de dólares à China Sonangol International, a distribuição de terrenos e a construção de centralidades habitacionais.
Kopelipa justificou que a urgência habitacional no país levou o governo a avançar com projetos de habitação inicialmente direcionados ao setor privado, mas que acabaram se tornando inacessíveis à maioria da população. Por isso, segundo ele, o governo decidiu implementar uma “bolsa pública” de habitação, voltada a funcionários públicos, com execução sob responsabilidade do GRN.
Entrega de bens da CIF ao Estado foi “voluntária”
O general também comentou sobre a entrega de bens da CIF ao Estado. Segundo ele, o processo foi iniciado após uma solicitação da Procuradoria-Geral da República, que o levou a entrar em contato com os acionistas da empresa. Ele esclareceu que participou do processo apenas como mandatário, não como proprietário.
Kopelipa relatou que chegou a assinar documentos à noite, sem a presença de seu advogado, por acreditar que estavam de acordo com o mandato que lhe havia sido conferido. “Reconheço que não li o que assinei”, admitiu.
O Ministério Público também quis saber se o general tinha conhecimento de irregularidades cometidas pela CIF. Ele respondeu que, durante sua gestão no GRN, não recebeu informações sobre atos ilícitos. “Se tivesse tido conhecimento de algo errado, teria sido o primeiro a denunciar”, afirmou.
Questionado sobre suas relações com empresários chineses, como Sam Pa e Lu Fong, Kopelipa disse que os conheceu em alguns encontros, mas que nunca teve uma relação próxima com eles.
O julgamento continua, com expectativas de novos esclarecimentos sobre os vínculos entre o GRN, empresas privadas e projetos de reconstrução do país. Enquanto isso, Kopelipa segue firme em sua defesa, reafirmando que suas ações sempre estiveram alinhadas com os interesses do Estado angolano.