O General José Ferreira Tavares está prestes a dar um novo passo nos seus negócios ao assumir o controlo de uma mina de diamantes na região do Luxico, província da Lunda Norte — uma área vizinha ao ambicioso projeto do Luaxe, um dos maiores empreendimentos diamantíferos de Angola. A estatal Endiama deverá integrar-se no projeto, embora os detalhes da parceria ainda não tenham sido oficialmente divulgados.
O que mais chama atenção nessa movimentação é que a entrada de Tavares no setor aconteceu sem que tivesse havido concurso público ou qualquer anúncio de investimento próprio. Isso tem gerado críticas e especulações, especialmente pelo seu vínculo próximo ao Presidente João Lourenço, de quem é amigo pessoal desde os tempos de formação militar na antiga União Soviética.
Fontes próximas ao processo apontam que Tavares, apesar de ter mantido uma relação sólida com o ex-presidente José Eduardo dos Santos, viu seus negócios prosperarem com mais intensidade durante a presidência de João Lourenço. Juntamente com o empresário libanês Jean Boustani, é frequentemente citado como uma figura próxima ao círculo mais restrito do poder em Angola.
Antes da atual incursão no setor diamantífero, Tavares já havia se envolvido em grandes negócios nacionais. Um dos mais notórios foi a sua ligação ao consórcio United Shine Limited (USL), que venceu o concurso para construção da Refinaria de Cabinda. A parceria incluía o controverso empresário russo-israelita Arcadi Gaydamak. No entanto, o contrato foi posteriormente rescindido pela Sonangol, e o projeto acabou sendo entregue à empresa Gemcorp Capital LLP.
Fora de Angola, o general tem investimentos significativos no Dubai, onde passa temporadas frequentes. Em julho de 2023, foi alvo de uma abordagem da polícia aduaneira no Aeroporto Internacional de Luanda, ao tentar embarcar com 250 mil dólares em dinheiro vivo — um montante acima do permitido por lei. O incidente, embora tenha gerado polémica, não resultou em acusações formais, e ele foi libertado pouco depois.
A influência de Tavares vai além do mundo empresarial. Em 2021, ele foi apontado como uma das figuras-chave nos bastidores da destituição de Adalberto Costa Júnior da liderança da UNITA, numa polémica decisão do Tribunal Constitucional. A sua atuação lhe valeu o apelido de “O Kangamba de JL”, numa referência à lealdade demonstrada ao Presidente João Lourenço. Desde então, sua presença em solo angolano diminuiu, tendo passado a frequentar mais os Emirados Árabes Unidos.
A entrada de José Ferreira Tavares no lucrativo setor dos diamantes ocorre num contexto de críticas sobre favoritismo político e falta de transparência. Ainda assim, sua ligação direta ao núcleo do poder parece continuar a garantir-lhe acesso a oportunidades estratégicas. Com o envolvimento da Endiama no projeto, espera-se que mais informações sejam divulgadas nos próximos meses — e que o Estado angolano consiga equilibrar os interesses públicos e privados nesse novo capítulo do setor mineiro.