A estabilidade política dos Países Baixos sofreu um forte abalo nesta terça-feira após o Partido da Liberdade (PVV), de orientação de extrema-direita, anunciar a sua saída da coligação governamental. A decisão foi tornada pública por Geert Wilders, líder do partido, através de uma declaração nas redes sociais, onde afirmou: “O PVV abandona a coligação”, citando divergências profundas em relação às políticas de imigração e asilo.
Segundo Wilders, a saída do PVV foi motivada pela recusa dos restantes parceiros da coligação em adotar o plano de asilo mais restritivo da história do país — uma proposta que incluía o encerramento de fronteiras para requerentes de asilo, deportações em massa e o encerramento de centros de acolhimento.
Apesar de integrar o Executivo, Wilders vinha expressando frustração com a lentidão na implementação das medidas. Para ele, o Governo falhou em cumprir a promessa de endurecer a política migratória, motivo pelo qual anunciou também a retirada dos ministros do PVV do gabinete.
“Prometemos aos eleitores a política de asilo mais rigorosa de sempre. Sem apoio para o nosso plano, a nossa participação no Governo termina aqui”, afirmou.
A saída do PVV dissolve automaticamente a coligação que sustentava o Governo liderado por Dick Schoof, no poder há apenas 11 meses. Especialistas políticos indicam que o país pode ser forçado a regressar às urnas ainda este ano.
A proposta migratória defendida por Wilders foi considerada controversa por juristas e observadores internacionais. Algumas medidas propostas violariam convenções internacionais, como a Convenção das Nações Unidas para os Refugiados, da qual os Países Baixos são signatários.
Entre os membros da coligação, a reação foi de incredulidade e crítica severa. Dilan Yeşilgöz, líder do VVD (partido liberal-conservador), classificou a decisão como “super irresponsável”.
“Estamos a viver uma crise internacional e uma economia instável. Esta decisão coloca o país em risco, apenas por motivos de ego”, disse Yeşilgöz.
Caroline van der Plas, do Movimento Camponês-Cidadão (BBB), também expressou irritação, enquanto Nicolien van Vroonhoven, do Novo Contrato Social (NSC), descreveu a atitude de Wilders como “incompreensível”.
Apesar de o PVV ter vencido as eleições no ano passado, Wilders não foi escolhido para liderar o Governo, sendo substituído por Dick Schoof após resistência dos parceiros da coligação. Desde então, o líder da extrema-direita vinha insistindo que a única forma de aplicar sua agenda anti-imigração seria tornar-se primeiro-ministro — o que ainda não foi possível devido ao sistema parlamentar fragmentado dos Países Baixos.
A crise atual expõe a fragilidade da política de coligações no país e reabre o debate sobre os limites das políticas de imigração dentro da legalidade europeia. Com o colapso do Governo, os Países Baixos enfrentam agora mais um período de incerteza política, enquanto o PVV aposta em reforçar a sua posição junto ao eleitorado mais conservador.