A recente atribuição das “Medalhas dos 50 Anos da Independência” causou forte indignação entre críticos do regime, reacendendo debates sobre o suposto papel neocolonial de algumas estruturas do poder angolano, como o controverso *Grupo Ideia Força (GIF). A ação é vista por opositores como uma “traição histórica ao T.P.O. (Titular do Poder Originário)”, e um símbolo da consolidação de políticas coloniais por elites assimiladas desde 1975.
“Estado Colonial de Consciência”: Teses de Isidro Fortunato Reaparecem
O investigador angolano Isidro Fortunato voltou ao centro do debate político com a divulgação de suas teses que sustentam a ilegitimidade do regime instaurado após a independência de Angola, em 1975. Segundo Fortunato, o Estado angolano mantém até hoje uma “consciência colonial”, sendo governado por “assimilados” que continuam a promover políticas herdadas do sistema colonial português.
Fortunato defende a criação da “DSPA”– uma estrutura alternativa que ele considera legítima para representar o verdadeiro poder originário do povo angolano. As suas ideias sustentam também a destituição dos atuais poderes por crimes de alta traição à pátria entre 1975 e 2025.
Carta Histórica de Graça Tavares (1963) Ganha Relevância
Como apoio às suas teses, Fortunato cita excertos da carta de Graça Tavares enviada em 1963 a Lúcio Lara, então membro da direção do MPLA. No documento, Tavares denuncia práticas de desvio de fundos, calúnias internas e a captura oportunista do movimento por grupos com interesses pessoais e alinhamento burguês.
“A vossa passagem na direção do movimento, todos sabem que foi de assalto, em especial ao capítulo de fundos”, escreveu Tavares, acusando diretamente a liderança da época de trair os ideais nacionalistas.
Ele afirma ainda:
“Não quero a troca de poderes para portugueses pintados de pretos ou mulatos.”
A carta, mantida durante décadas nos bastidores da história, reforça hoje a narrativa de que a luta de libertação foi corrompida desde os seus primeiros anos.
As acusações de Fortunato, juntamente com a carta de Tavares, reforçam críticas ao **MPLA** e sua transformação, segundo os opositores, em uma organização político-econômica elitista aliada ao *Grupo Ideia Força*. Este grupo seria, segundo os críticos, responsável por manter as estruturas herdadas do colonialismo português, excluindo vozes populares e sacrificando os verdadeiros heróis da libertação nacional.
Conclusão: 50 Anos de Independência ou Continuidade do Colonialismo?
A celebração do cinquentenário da independência, ao invés de unir, parece ter aprofundado as divisões históricas e ideológicas dentro da sociedade angolana. A atribuição das medalhas – considerada por muitos como um gesto de propaganda do regime – serviu para revelar verdades antes ocultas e fortalecer movimentos que pedem uma reavaliação completa da história oficial do país.
O debate agora é se Angola pode caminhar rumo a uma verdadeira soberania popular ou se continuará presa a uma lógica de poder herdada da colonização – apenas sob novas roupagens.