Luanda – A cena política angolana continua marcada por tensões internas no seio do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), refletindo uma divisão cada vez mais evidente entre duas alas: uma ligada ao ex-presidente José Eduardo dos Santos (JES) e outra alinhada ao atual chefe de Estado, João Lourenço (JLO). A clivagem, que se acentuou após a transição de poder em 2017, persiste como um dos principais desafios à coesão do partido no poder.
A corrente associada a José Eduardo dos Santos representa o setor mais tradicional do MPLA, com fortes raízes no modelo de governação centralizado adotado durante os 38 anos do seu governo. Essa ala mantém vínculos com redes econômicas poderosas — especialmente nos setores do petróleo, banca, telecomunicações e construção — e segue defendendo a continuidade política com poucas aberturas às reformas.
Apesar do falecimento de JES em 2022, seus apoiantes ainda detêm influência significativa em diversas estruturas do Estado e do próprio partido, mantendo-se como um polo de resistência às mudanças propostas pela atual liderança.
João Lourenço, por sua vez, tem procurado imprimir um novo rumo ao MPLA, promovendo reformas voltadas à moralização da vida pública e à modernização da economia. O combate à corrupção tornou-se uma bandeira central, com destaque para os processos envolvendo figuras próximas ao antigo regime, como a empresária Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos.

Futuro Incerto e Desafios à Unidade “Ala de JES: Conservadorismo e Influência nos Bastidores”
Além disso, JLO tem defendido maior abertura ao investimento privado e uma imagem de transparência, embora suas ações também sejam alvo de críticas por alegada seletividade e limites nas reformas.
As tensões entre as duas alas têm resultado em purgas políticas, exonerações e afastamentos de figuras ligadas ao antigo presidente. A desconfiança mútua afeta a coesão interna do MPLA e complica a resposta aos desafios sociais e econômicos do país, especialmente num contexto de aumento da insatisfação popular.
Analistas destacam que a oposição e a sociedade civil têm explorado essa divisão como um sinal de fragilidade do regime, colocando pressão adicional sobre a liderança atual.
Embora João Lourenço tenha conseguido consolidar parte do seu poder dentro do partido, a ala de JES segue ativa nos bastidores. A estabilidade futura do MPLA dependerá da habilidade do presidente em equilibrar a agenda de reformas com a manutenção da unidade partidária, ao mesmo tempo que responde às crescentes exigências por mudanças da sociedade angolana.