As eleições presidenciais na Roménia deram uma inesperada reviravolta neste domingo (4 de maio de 2025), com o nacionalista George Simion conquistando a liderança na primeira volta com cerca de 40,5% dos votos, segundo os dados oficiais apurados com 99% das urnas contadas.
Num desfecho dramático, o candidato independente e atual presidente da Câmara de Bucareste, Nicușor Dan, garantiu o segundo lugar, deixando para trás Crin Antonescu, o nome da coligação governamental. A sua passagem à segunda volta representa um duro golpe no coração do establishment político tradicional da Roménia, membro da União Europeia e da NATO.
O confronto entre Simion e Dan não estava nos cálculos de ninguém até há poucos meses. Embora todas as sondagens previssem a vitória de Simion nesta fase, a ascensão de Dan surpreendeu, indicando um descontentamento generalizado com os partidos tradicionais e uma clara mensagem à coligação no poder, composta por PSD, PNL e UDMR.
A segunda volta, agendada para daqui a duas semanas, colocará frente a frente duas visões muito distintas de país: uma nacionalista, representada por Simion, e outra mais alinhada com os valores europeus e transatlânticos, defendida por Dan.
Mesmo antes do anúncio oficial dos resultados, George Simion proclamou vitória e apelou à vigilância no processo de apuração dos votos, reforçando a narrativa de um movimento popular contra o sistema estabelecido.
Simion tem capitalizado o crescente sentimento anti-establishment no país, especialmente após a turbulência política causada pela vitória de Calin Georgescu nas eleições de dezembro de 2024, que acabaram por ser anuladas.
O apoio da diáspora também foi decisivo: 77% dos romenos votantes em Itália e 80% dos que participaram na votação em Espanha escolheram Simion, segundo os primeiros dados.
Ao contrário dos líderes tradicionais, Simion optou por um discurso solitário na noite eleitoral, seguindo o estilo do seu aliado Georgescu. Em sua declaração, afirmou:
“Hoje, o povo romeno votou e falou. Esta é a vitória da dignidade romena. A vitória daqueles que mantêm a esperança viva, que acreditam numa Roménia livre, respeitada e soberana.”
O candidato nacionalista é conhecido pelas suas críticas à União Europeia, especialmente no que diz respeito ao apoio ao governo da Ucrânia. A sua postura levou inclusive a proibições de entrada tanto na Ucrânia quanto na Moldávia.
Os resultados indicam uma forte tendência dos eleitores a se distanciarem das estruturas partidárias e apostarem em figuras independentes ou fora do eixo tradicional. O fraco desempenho de Antonescu evidenciou a incapacidade da coligação governamental em mobilizar sua base, sobretudo nas áreas rurais.
Com uma participação eleitoral de 53%, os romenos demonstraram maior interesse nas urnas do que na votação anulada do ano anterior, refletindo o peso e a tensão deste momento político.