A situação política em Cabinda volta ao centro do debate nacional após o anúncio de um cessar-fogo de 60 dias por parte da Frente de Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas Cabindesas (FLEC-FAC). Em resposta, o Governo angolano acusou a UNITA, maior partido da oposição, de manter contatos com o movimento separatista, levantando novas tensões no panorama político nacional.
O Executivo repudiou de forma contundente uma reportagem da Rádio Televisão Portuguesa (RTP), que noticiou o cessar-fogo como indício de um conflito armado ativo na região. As autoridades classificaram a matéria como “enganosa” e “maliciosa”, argumentando que a estabilidade sociopolítica e militar em Cabinda está garantida.
Em comunicado oficial, o Governo criticou a suposta colaboração da UNITA com a FLEC-FAC, sugerindo que o partido estaria envolvido em articulações políticas com os separatistas. A RTP, segundo a nota, teria sido usada como canal privilegiado para divulgar informações distorcidas sobre a situação no enclave, comprometendo a ética jornalística.
Por sua vez, Evaldo Evangelista, porta-voz da UNITA, desvalorizou as acusações. Para ele, trata-se de uma tentativa do Governo de negar a existência do conflito em Cabinda. Evangelista afirmou que o papel da UNITA tem sido o de facilitar o diálogo e apresentar soluções viáveis, sendo bem recebida pela população local como mediadora legítima.
Em meio às trocas de acusações, um novo fator veio à tona: mais de 200 supostos ex-militares da FLEC-FAC anunciaram sua saída do movimento, alegando maus-tratos, falta de condições básicas nas áreas de operação e cansaço após anos de luta. Martins Chincoco, que se apresentou como ex-chefe adjunto de Operações da FLEC-FAC, relatou o abandono por parte da liderança e a precariedade vivida nas matas.
“Trabalhámos anos em busca da independência, mas hoje não queremos mais ouvir falar da FLEC. A realidade que enfrentamos foi de fome, doenças e abandono total”, desabafou Chincoco.
Diante dessas declarações, o próprio Governo reforçou sua posição de que não há conflito armado na província, conforme destacou Esteves Hilário, secretário para a Informação do MPLA. Segundo ele, a situação no norte do país está sob controlo, e os relatos de confrontos armados não refletem a realidade.
O episódio reacende discussões sobre o futuro de Cabinda, a credibilidade das fontes de informação internacionais e o papel dos partidos políticos na mediação de conflitos internos. Em ano simbólico para Angola, com a celebração dos 50 anos da Independência, o debate sobre a unidade nacional ganha ainda mais relevância.