Início » A Sucessão no MPLA: Um futuro ainda sem rosto

A Sucessão no MPLA: Um futuro ainda sem rosto

by REDAÇÃO

Com as eleições presidenciais de 2027 no horizonte, cresce o debate sobre quem poderá ser o próximo rosto do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) à frente da nação. A sucessão de João Lourenço permanece envolta em incertezas, num ambiente onde o silêncio estratégico parece falar mais alto do que as intenções declaradas.

Historicamente, há dois caminhos possíveis para definir o próximo candidato presidencial do MPLA: a realização de eleições primárias internas ou a escolha direta feita pelo líder em exercício, referendada pelas instâncias partidárias. A primeira via, mais democrática, é muitas vezes defendida por alas internas opositoras a João Lourenço. A segunda tem sido o método preferido pela atual liderança — centralizado, controlado e previsível.

No entanto, a realidade do MPLA mostra que, sempre que surgiram tentativas internas de desafiar o poder estabelecido, o desfecho foi violento ou repressivo. As memórias da Revolta Activa de 1974, a insurreição do Leste e os trágicos eventos de 27 de Maio de 1977 ainda ecoam como exemplos da intolerância interna ao dissenso.

Hoje, o MPLA parece paralisado diante da necessidade de renovação. As bases não veem sinais concretos de abertura para um processo participativo de sucessão, e a escolha do próximo candidato continua à espera da palavra final de João Lourenço. Essa inércia contrasta com uma sociedade cada vez mais politizada e exigente, moldada por duas décadas de paz e pelo dinamismo das redes sociais.

Nos bastidores, há movimentações silenciosas. Vários nomes ganham visibilidade, ora através de aparições mediáticas, ora por maior envolvimento nas comunidades ou aumento estratégico da presença online. Nomes como Adão de Almeida, Manuel Homem, Higino Carneiro, Nandó, Mara Quiosa e Boavida Neto surgem como possíveis pretendentes. Nenhum se assume oficialmente como candidato, mas todos, de alguma forma, estão na corrida.

Enquanto José Eduardo dos Santos definiu seu sucessor com autoridade quase absoluta, João Lourenço pode não ter a mesma margem de manobra. Sua liderança, marcada por um desgaste eleitoral crescente, pode encontrar resistência interna ao tentar impor um nome.

Hoje, o MPLA vive uma tensão interna silenciosa: de um lado, a cultura do secretismo e da obediência herdada do passado; do outro, um novo espírito crítico que emerge na sociedade angolana. As plataformas digitais, os grupos de WhatsApp e a maior abertura para o debate político colocam pressão sobre um sistema que sempre evitou transparência.

À medida que 2027 se aproxima, o partido parece dividido entre manter o modelo centralizado de escolha ou abrir espaço para uma renovação real. Há quem aposte que a escolha poderá recair sobre um nome inesperado, como aconteceu com Esperança Costa e Mara Quiosa em nomeações anteriores feitas por João Lourenço.

No entanto, a principal incógnita permanece: o MPLA está preparado para ouvir as vozes de fora do círculo restrito do poder? Ou assistiremos a mais uma sucessão silenciosa, decidida nos corredores e imposta ao povo?

A sucessão é inevitável, mas o rumo que ela tomará pode definir não apenas o futuro do partido, mas também o destino político de Angola. Resta saber se o MPLA vai ousar transformar-se ou insistirá em preservar um modelo já questionado por muitos.

related posts

Leave a Comment