A atuação da Polícia Nacional no distrito urbano do Camama está a ser fortemente contestada após alegações de conivência com fiscais da Administração Municipal, acusados de agredir violentamente zungueiras no bairro Calemba 2, durante uma operação na noite de terça-feira, 18 de junho.
Uma das vítimas, Igraça Pedro, viúva de 60 anos, foi brutalmente espancada junto ao portão do mercado da loja PEP, tendo perdido os seus bens, incluindo produtos para venda, um carro de mão e cerca de 50 mil kwanzas em dinheiro. Segundo relatos, os agentes da fiscalização atuaram com violência e impunidade, sem qualquer intervenção por parte da polícia presente no local.
Organizações femininas como a OMA (ligada ao MPLA) e a LIMA (da UNITA) ainda não se pronunciaram sobre o episódio, que reacende críticas sobre a falta de resposta institucional aos abusos cometidos contra mulheres no comércio informal.
O caso é mais um entre vários episódios de repressão contra zungueiras em Luanda. Estes incidentes têm se repetido com frequência, envolvendo não só agressões físicas e apreensão de bens, mas também denúncias de extorsão e até homicídios, como os casos emblemáticos de Luciana Nsumba, em 2018, e Juliana Kafrique, assassinada por agentes policiais em março de 2019.
A denúncia no Calemba 2 levanta novamente a questão sobre a atuação das autoridades face ao comércio informal, que constitui um dos principais meios de subsistência para milhares de famílias angolanas. Especialistas e organizações civis têm apelado por políticas públicas mais inclusivas e menos repressivas, exigindo respeito pelos direitos humanos das trabalhadoras informais.
Apesar dos pedidos de esclarecimento, tanto o comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-chefe Francisco Ribas, como o porta-voz da corporação em Luanda, Nestor Goubel, recusaram comentar o caso até ao momento.
A ausência de resposta oficial e a alegada proteção dos agressores por parte da polícia agravam a indignação pública e alimentam a sensação de impunidade. Enquanto isso, as zungueiras continuam a enfrentar um ambiente hostil, onde, além das dificuldades económicas, lidam com o medo constante de violência e perseguição.