Em um contexto de crescente tensão comercial entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos, o presidente francês Emmanuel Macron fez duras críticas às novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, chamando a medida de “brutal” e “infundada”. A imposição de direitos aduaneiros recíprocos, que afeta a UE e outros países, tem sido motivo de grandes preocupações, e Macron não hesitou em questionar a eficácia e a justiça dessa abordagem.
Macron, durante uma reunião com representantes da indústria francesa, enfatizou que a União Europeia “não deve excluir qualquer possibilidade” de retaliar contra as tarifas e sugeriu uma pausa nos investimentos europeus nos Estados Unidos até que a situação seja resolvida. “Qual seria a mensagem de ter grandes atores europeus a investir bilhões de euros na economia americana no momento em que nos estão a atacar?”, questionou o presidente francês, fazendo um apelo à solidariedade coletiva.
As tarifas impostas por Trump têm um impacto direto sobre a economia da União Europeia. A partir de 9 de abril, a UE enfrentará uma tarifa de 20% sobre uma série de produtos, além de taxas de 25% sobre exportações de aço, alumínio e automóveis que já estão em vigor. Macron expressou ceticismo sobre a expectativa de Trump de que essas tarifas possam ajudar a reduzir os déficits comerciais dos Estados Unidos com seus parceiros, incluindo a UE. Para Macron, os desequilíbrios comerciais não podem ser corrigidos dessa maneira, especialmente considerando que muitos desses desequilíbrios envolvem serviços digitais, que não são adequadamente abordados por essas taxas.
A França também alertou para as potenciais consequências dessa política. Macron previu que as tarifas recíprocas teriam um impacto negativo imediato e insustentável sobre a economia americana, enfraquecendo tanto as empresas quanto os cidadãos dos EUA. Ele também destacou que os impactos para a Europa seriam “massivos”, afetando “todos os setores” da economia europeia.
Em resposta ao desafio colocado por Trump, Macron defendeu que a União Europeia deve tirar proveito de seu mercado único de 450 milhões de consumidores e se preparar para uma resposta “unificada, forte e resoluta”. A Comissão Europeia já manifestou disposição para retaliar contra os direitos aduaneiros, mas também ressaltou a importância das negociações. “Nada está excluído. Todos os instrumentos estão sobre a mesa”, afirmou Macron, ecoando as palavras de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que indicou que a UE está disposta a utilizar medidas de represália se necessário.
Uma dessas opções seria a ativação de um instrumento da UE para combater casos de coerção econômica, que permitiria à União Europeia impor direitos aduaneiros, restringir o comércio de serviços e limitar o acesso ao investimento direto estrangeiro e aos contratos públicos. Este mecanismo, no entanto, nunca foi utilizado desde sua criação em 2023.
Além disso, Macron mencionou a possibilidade de retaliar contra os serviços digitais dos Estados Unidos, uma área essencial para a economia americana, sem, no entanto, especificar as medidas exatas que poderiam ser adotadas.
Em relação à Ásia, Macron alertou para as possíveis repercussões das tarifas de Trump, que são ainda mais severas para países como a Malásia, Índia, Indonésia e China. Ele temia que esses países, ao serem impedidos de acessar o mercado americano, redirecionassem suas exportações para a Europa, sobrecarregando ainda mais o mercado europeu. A China, especialmente, já está sendo monitorada de perto devido ao seu histórico de exportação de produtos de baixo custo e fortemente subsidiados.
Com um cenário cada vez mais tenso, Macron reforçou a necessidade de uma resposta forte da União Europeia. “Ao verem o mercado americano bloqueado, esses países vão redirecionar seus fluxos para a Europa”, afirmou o presidente francês. A União Europeia, portanto, está se preparando para lidar com as consequências dessa mudança no comércio global, esperando que a situação se resolva de forma que proteja os interesses econômicos europeus.