Desde o início da guerra, as tentativas de negociações entre a Ucrânia e a Rússia passaram por vários altos e baixos, com momentos de esperança e, infelizmente, muitos fracassos. Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, desde o início do conflito, expressou várias vezes sua disposição para conversar com Vladimir Putin, na tentativa de pôr fim à guerra. No entanto, as conversas que aconteceram até agora demonstraram ser um verdadeiro desafio.
A primeira tentativa de diálogo aconteceu logo no início da invasão russa, em fevereiro de 2022, quando as forças russas já tinham começado a ocupar importantes cidades ucranianas e estavam se aproximando de Kiev. Naquele momento, com milhões de pessoas buscando refúgio dos ataques, as delegações de ambos os países se reuniram na fronteira com a Bielorrússia, um dos aliados de Moscovo. A expectativa era que, sem condições prévias, as negociações pudessem abrir caminho para um cessar-fogo e a retirada das tropas russas.
No entanto, mesmo com os esforços diplomáticos, a situação rapidamente se deteriorou. A Rússia não revelou suas intenções, e as primeiras rodadas de negociações não produziram resultados significativos. À medida que a guerra avançava, a brutalidade das forças russas ficou cada vez mais evidente. Em março, enquanto as tropas russas estavam em torno de Kiev, surgiram imagens e vídeos devastadores das atrocidades cometidas em cidades como Bucha, onde civis foram encontrados mortos, amarrados e baleados à queima-roupa. A visita de Zelenskyy a Bucha, em abril de 2022, só confirmou a gravidade dos crimes de guerra cometidos, levando o presidente a declarar que o que acontecia na cidade era “genocídio”. Essa revelação abalou ainda mais as tentativas de continuar com as negociações de paz.
Apesar disso, Zelenskyy afirmou que as negociações com Moscovo não seriam interrompidas, pois, como ele mesmo afirmou, a Ucrânia precisava de paz. Ele destacou que, mesmo diante das atrocidades, o país continuaria a buscar uma solução diplomática, embora reconhecesse ser “muito difícil” negociar após tudo o que havia sido testemunhado.
No entanto, as tensões aumentaram em setembro de 2022, quando Putin anunciou a anexação ilegal de quatro regiões ucranianas — Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson. Em resposta, a Ucrânia proibiu qualquer tipo de negociação direta com o líder russo, através de um decreto do Conselho Nacional de Segurança e Defesa. Zelenskyy explicou que a decisão foi tomada para evitar a pressão sobre o país, já que os russos estavam tentando influenciar a Ucrânia por meio de corredores políticos com separatistas e outras figuras alinhadas com Moscovo. “Pus fim ao separatismo no nosso país”, afirmou Zelenskyy, deixando claro que ele, como presidente, era a única pessoa autorizada a negociar com a Rússia.
A proibição gerou críticas por parte de Moscovo, que acusou a Ucrânia de não estar disposta a negociar. Putin, por sua vez, usou o argumento para afirmar que Zelenskyy não tinha autoridade para assinar acordos de paz, especialmente após a anexação das regiões ucranianas.
Zelenskyy, no entanto, não via qualquer chance de um “Minsk 3”. Essa expressão se refere aos acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015, que tinham como objetivo encerrar o conflito no leste da Ucrânia, onde forças separatistas pró-russas estavam em confronto com as forças ucranianas. No entanto, a Rússia nunca cumpriu as promessas feitas nos acordos de Minsk e, em vez disso, continuou a intensificar sua presença militar no território ucraniano, culminando na invasão em grande escala de 2022.
Embora as conversas de paz tenham sido tentadas em várias ocasiões, a confiança mútua entre os dois países foi completamente quebrada. Zelenskyy tem reiterado que não quer acordos temporários ou “situações passageiras”, mas sim garantias de segurança duradouras para a Ucrânia. A guerra, para ele, não pode ser resolvida por meio de um simples acordo de cessar-fogo, como aconteceu anteriormente, com a linha de contato em Minsk, onde a violência e as mortes continuaram.
Agora, enquanto a guerra continua, as negociações de paz estão longe de uma solução viável. A prioridade de Zelenskyy é garantir um futuro seguro para a Ucrânia, com uma solução que respeite a soberania do país e ofereça verdadeiras garantias de segurança, sem recorrer a acordos que possam ser violados novamente, como ocorreu com Minsk. A situação continua a evoluir, mas a necessidade de uma paz verdadeira e duradoura permanece, mesmo diante da complexidade e das dificuldades das conversações com a Rússia.