O economista Carlos Rosado de Carvalho disse hoje que há condições para aumentar os salários em Angola, salientando que os trabalhadores com salário mínimo perderam 40% do poder de compra desde 2017, quando João Lourenço se tornou Presidente.
O economista comentava à Lusa as causas e efeitos da greve geral convocada pelas três centrais sindicais angolanas, que teve início na quarta-feira.
O analista disse que o mandato de João Lourenço se tem caracterizado pela “desconcertação social total”.
“O Presidente só fala com os patrões (…) e só se lembra dos trabalhadores na véspera das eleições, fazendo aumentos salariais. Ora, não há país que funcione sem a concertação social, nós temos de ter um país onde os trabalhadores sejam ouvidos”, declarou, à margem da apresentação do livro “Compreender a Angola de amanhã… hoje”, do economista Manuel Alves da Rocha, que decorreu em Luanda.
“Eu acho que isto é um aviso, que pode ser uma oportunidade para o Governo, agora vamos ver se o Governo percebeu”, observou, a propósito da greve geral.
O também docente defendeu que Angola tem de ter uma política de rendimentos, que atualmente não existe.
“O resultado é uma quebra do poder de compra total”, frisou, estimando que desde 2014, altura em que se inicia a crise, os trabalhadores que auferem salário mínimo perderam 65% do poder de compra e 40% desde que João Lourenço assumiu o primeiro mandato como Presidente.
“Não há economia com salários de miséria”, realçou o economista.
Questionado sobre se há condições para responder às reivindicações dos sindicatos, Carlos Rosado de Carvalho disse que para repor o salário mínimo ao valor anterior ao tempo da crise seria necessário um aumento dos atuais 32 mil kwanzas (35 euros) para cerca de 92 mil kwanzas (101 euros), concluindo que os 100 mil kwanzas (110 euros) reivindicados pelos sindicatos “são uma boa proposta de trabalho”.
Além disso, “há um dado que diz que há margem para aumentar salários em Angola, que é a distribuirão do rendimento”.
No caso de Angola, prosseguiu, os trabalhadores só ficam com 25% do rendimento nacional, enquanto no Brasil ficam com 45%. “Portanto há uma margem para, nas atuais condições, aumentar salários com uma melhor distribuição de rendimentos (…) desde que haja vontade”, sublinhou.
Angola iniciou na quarta-feira a sua segunda greve geral desde 1998, a primeira com a participação das três centrais sindicais.
As centrais sindicais aprovaram, por unanimidade, uma greve geral interpolada com início a 20 de março e que vai decorrer em três fases, com um primeiro período de três dias entre 20 e 22 de março, outro de sete dias entre 22 e 30 de abril e outros 11 dias entre 03 a 14 de junho de 2024.
Sindicatos e Governo não se entendem sobre questões relacionadas com o aumento do salário mínimo e dos salários da função pública, mas ambas as partes se manifestam disponíveis para continuar a negociar.
Segundo os sindicatos, o primeiro dia desta greve interpolada contou com 95% de adesão e ficou também marcado pela detenção de grevistas e queixas de ameaças e coação.