Home POLÍTICA Holden Roberto é excluído das homenagens dos 50 anos da Independência: silêncio revela racha histórico

Holden Roberto é excluído das homenagens dos 50 anos da Independência: silêncio revela racha histórico

by REDAÇÃO

Luanda  — A ausência do nome de Holden Roberto, considerado por muitos como o “Pai do Nacionalismo Angolano”, da lista de personalidades homenageadas nas comemorações dos 50 anos da independência de Angola gerou forte repercussão e levantou sérias questões sobre a reinterpretação histórica promovida por setores dentro do MPLA.

A exclusão do fundador da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), que foi uma das figuras centrais na luta anticolonial, é vista por analistas como um sinal claro de apagamento político intencional, orquestrado por grupos que, segundo críticos, estariam infiltrados no MPLA desde 1961 — grupo apelidado de “ideia força”.

Segundo setores da oposição e figuras históricas dissidentes, esta decisão simboliza a nulidade e o desprezo por contribuições fundamentais para a libertação do país, apagando da memória nacional 63 anos de luta (1961–2025) conduzida por Holden Roberto e pela FNLA.

Críticas ao retorno do “capitalismo articulado”

As críticas vão além da exclusão simbólica. Entre as vozes mais duras está a evocação do pensamento de Nito Alves, figura histórica da chamada “Revolta Activa”, que já denunciava, nos anos 1970, o desvio dos ideais revolucionários do MPLA. Nito apontava para um processo de oportunismo, acomodação e traição aos verdadeiros valores pelos quais muitos tombaram.

Alves, em textos hoje recuperados por militantes e grupos como o DSPA, TPO e o Projecto Angola Urgente (2025–2027), já questionava abertamente a conduta de líderes do partido, como Lúcio Lara, e os conflitos não resolvidos dentro da organização.

“Eles criticavam a forma, porque o conteúdo era verdadeiro”, dizia Nito, sobre as acusações feitas ao presidente da época.

Carta histórica expõe fratura entre FNLA e MPLA

Documentos antigos agora recuperados reforçam o afastamento entre FNLA e MPLA. Em uma carta enviada por Holden Roberto a Agostinho Neto, datada de 1962, o líder nacionalista expressa frustração com o fracasso dos acordos de colaboração entre os dois partidos.

No texto, Holden denuncia o retorno de uma retórica de “acusações caluniosas e tendenciosas” por parte do MPLA, minando qualquer possibilidade de união entre as duas forças nacionalistas.

“A vossa política é de confusão, denegrimento e difamação. Por trás da retórica revolucionária, esconde-se o neocolonialismo que pretende perpetuar a escravidão do nosso povo”, escreveu.

Para Holden Roberto, o povo angolano deveria ser o verdadeiro juiz da história, rechaçando o culto de personalidade e preservando a memória daqueles que, de fato, representaram seus interesses.

A omissão de Holden Roberto nas celebrações de meio século de independência foi interpretada por opositores como a confirmação da “profecia” do líder da FNLA sobre o apagamento histórico. Movimentos civis e ex-combatentes exigem um debate mais transparente sobre o papel de todas as forças na luta de libertação, e a revisão do que chamam de “narrativa oficial seletiva”.

Enquanto o governo mantém silêncio sobre a decisão, cresce o apelo por uma revalorização plural da história nacional, onde nomes como Holden Roberto sejam resgatados com a dignidade que muitos acreditam ser devida.

Saudações revolucionárias

A Vitória é certa

António Alves Rosa Coutinho

-Vice-Almirante

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