A associação *Quebrar o Silêncio*, que oferece apoio a homens vítimas de violência sexual, tem se mostrado um ponto de apoio vital para muitos ao longo de seus oito anos de existência. Em média, a associação recebe cerca de 10 novos pedidos de ajuda por mês, e, desde a sua fundação, já ajudou mais de 800 homens e rapazes em busca de suporte.
Em 2024, a organização registrou 112 novos casos de vítimas e outros 50 pedidos de ajuda de familiares ou amigos. Esse número é apenas uma amostra do crescente reconhecimento da violência sexual contra homens e rapazes, um tema ainda envolto em tabus e preconceitos.
O diretor-executivo da *Quebrar o Silêncio*, Ângelo Fernandes, observou uma mudança importante no perfil das vítimas ao longo do tempo. Embora nos primeiros anos a média de idade dos homens que buscavam ajuda fosse de 37 a 38 anos, em 2024 esse número caiu para 31 anos. Além disso, os tipos de crimes relatados se diversificaram. Se no início a maioria dos casos estava relacionada ao abuso sexual infantil, atualmente há um aumento de relatos envolvendo situações na idade adulta, como stalking (perseguição insistente), assédio sexual no trabalho, violência em relacionamentos íntimos, e até assédio durante atividades desportivas ou em consultas médicas.
Em 2024, a associação registrou uma variedade de casos, com destaque para o abuso sexual infantil (59,1%) e coação sexual (10,9%). Outros crimes mencionados incluíram violação (10%), perseguição e assédio sexual no ambiente de trabalho (7,3%), violência sexual em contexto doméstico (4,5%), e tentativas de violação (2,7%). Esses dados refletem a complexidade dos abusos enfrentados pelas vítimas, e a necessidade urgente de mais apoio e conscientização sobre a violência sexual.
Apesar do crescente número de pedidos de ajuda, um desafio significativo permanece: o estigma de que homens adultos não podem ser vítimas de violência sexual. Segundo Ângelo Fernandes, essa ideia equivocada contribui para que muitos homens não procurem apoio. Na realidade, aproximadamente 20% dos pedidos de ajuda vêm de homens adultos, um número que ainda é baixo, considerando a magnitude do problema.
Além disso, muitos homens não reconhecem que podem ser vítimas de abuso sexual, especialmente em relações íntimas. Abusos cometidos por mulheres, por exemplo, são frequentemente desconsiderados como “não sendo graves”. O diretor-executivo compartilhou casos em que homens afetados pela violência sexual não conseguiram lidar com as consequências psicológicas, como insônia, pesadelos e mudanças no comportamento cotidiano.
O trabalho da *Quebrar o Silêncio* continuará a ser focado na formação e sensibilização, não apenas em áreas de saúde e psicologia, mas também entre órgãos policiais, para que o tema da violência sexual seja tratado de forma mais aberta e sem julgamentos. Fernandes reforçou a necessidade de combater preconceitos, pois muitos homens permanecem em silêncio por medo de serem mal interpretados ou não serem levados a sério.
O futuro da associação está voltado para a quebra do silêncio, a promoção do entendimento e a criação de um ambiente seguro para que homens vítimas de violência sexual possam buscar apoio sem medo de estigmatização. O trabalho de conscientização e apoio contínuo é fundamental para que mais homens saibam que não estão sozinhos e que podem encontrar ajuda e recuperação.