Em uma decisão que reflete sua postura firme em relação à proteção da economia americana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na última sexta-feira (10 de dezembro de 2024) que está bloqueando a aquisição da empresa US Steel pela japonesa Nippon Steel. O acordo, avaliado em US$ 14,9 bilhões, gerou preocupações quanto à segurança nacional e à preservação das cadeias de suprimentos críticas do país.
“Colocar um dos maiores produtores de aço dos Estados Unidos sob controle estrangeiro representa um risco significativo para nossa segurança nacional”, declarou Biden em comunicado oficial. Embora o presidente não tenha detalhado os riscos específicos, a decisão foi amplamente vista como uma tentativa de proteger indústrias estratégicas e os trabalhadores americanos.
A decisão também representa uma vitória significativa para os trabalhadores da US Steel, empresa sediada em Pittsburgh, Pensilvânia. O estado é considerado estratégico nas eleições presidenciais, e o poderoso sindicato United Steelworkers endossou Biden em março de 2024.
Matthew Goodman, diretor da RealEcon Initiative no Council on Foreign Relations, destacou que a decisão de Biden foi amplamente política. “O presidente queria demonstrar que está comprometido em proteger os trabalhadores americanos, especialmente no setor siderúrgico, que frequentemente enfrenta práticas comerciais desleais”, afirmou Goodman.
A lei federal permite que o presidente bloqueie transações com base na recomendação do Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos (CFIUS). Presidido pela secretária do Tesouro, Janet Yellen, o comitê é composto por membros do gabinete presidencial e analisa os riscos de segurança nacional associados a aquisições estrangeiras. No entanto, o CFIUS não conseguiu chegar a um consenso sobre os riscos do acordo, levando Biden a tomar a decisão final.
A decisão de Biden gerou preocupação entre analistas, que alertaram para possíveis danos às relações com o Japão, um aliado estratégico dos Estados Unidos na ásia. O país desempenha um papel crucial na manufatura e na construção naval, áreas que podem se tornar ainda mais relevantes em um cenário de tensão com a China.
John Ferrari, membro do American Enterprise Institute, destacou a importância de manter o Japão como aliado. “Permitir que empresas japonesas invistam nos Estados Unidos poderia fortalecer nossa relação e nossa economia”, argumentou.
As empresas Nippon Steel e US Steel prometeram contestar a decisão legalmente, afirmando que o governo americano não seguiu os procedimentos adequados ao bloquear o acordo. Em comunicado conjunto, as empresas declararam que “a decisão do presidente não apresentou evidências convincentes de riscos à segurança nacional”, classificando-a como uma medida política.
O bloqueio segue uma série de medidas protecionistas adotadas pela administração Biden. No ano passado, o presidente triplicou as tarifas sobre importações de aço da China, alegando que as práticas comerciais desleais estavam prejudicando a indústria americana.
“Por muito tempo, as empresas siderúrgicas americanas enfrentaram concorrência desleal, com empresas estrangeiras despejando aço no mercado a preços artificialmente baixos. Isso resultou na perda de empregos e no fechamento de fábricas”, afirmou Biden.
O presidente eleito Donald Trump, que tomará posse em janeiro de 2025, também se manifestou contra o acordo. Em novembro, Trump prometeu usar tarifas e incentivos fiscais para fortalecer a US Steel e bloquear a aquisição pela Nippon Steel. O futuro da política comercial americana deve continuar sendo um tema de debate acalorado nos próximos meses.
A decisão de Biden reflete sua estratégia de proteger indústrias consideradas essenciais para a segurança e a economia do país, mesmo diante de pressões diplomáticas e comerciais.
Fonte: VOA