O cenário da imigração nos Estados Unidos volta a ganhar destaque com uma recente decisão do Supremo Tribunal que representa mais um revés judicial para a administração Trump. A mais alta corte do país barrou temporariamente uma tentativa do ex-presidente Donald Trump de acelerar as deportações de cidadãos venezuelanos detidos no Texas — uma medida que, segundo especialistas, poderia abrir precedentes preocupantes para o devido processo legal em matéria de imigração.
A administração Trump havia argumentado que alguns venezuelanos, detidos por suposta ligação a gangues, poderiam ser deportados com base na antiga e controversa Lei dos Inimigos Estrangeiros de 1798. Essa legislação, que remonta ao século XVIII, permite a deportação de cidadãos estrangeiros considerados ameaça ao país, mesmo sem julgamento tradicional.
Diante dessa manobra, advogados defensores entraram com um recurso de emergência, pedindo ao Supremo Tribunal que impedisse a execução imediata das deportações — e a corte atendeu ao apelo.
A resposta de Trump não demorou. Em sua rede social, Truth Social, ele criticou duramente a decisão dos juízes:
“O SUPREMO TRIBUNAL NÃO NOS PERMITE TIRAR OS CRIMINOSOS DO NOSSO PAÍS!”, escreveu em letras maiúsculas.
Apesar da retórica inflamada, o tribunal foi claro ao afirmar que a decisão não tratava da legalidade do uso da lei de 1798, mas sim do direito fundamental que os imigrantes têm de contestar judicialmente sua deportação — algo previsto no sistema de justiça norte-americano.
Enquanto isso, o Departamento de Segurança Interna dos EUA solicitou 20.000 membros da Guarda Nacional para apoiar as rusgas de imigração em todo o país. O Departamento de Defesa está analisando o pedido, considerado incomum, principalmente porque se trata de operações dentro do território nacional, distantes da fronteira.
Segundo informações divulgadas por fontes próximas ao governo, a ideia seria usar essas tropas para reforçar a execução de uma das promessas de campanha de Trump: endurecer o controle migratório, especialmente contra o que ele classifica como “invasão” estrangeira.
Essas tropas, diferentemente das que operam na fronteira sul, seriam designadas para apoiar ações no interior dos Estados Unidos — um movimento que levanta dúvidas jurídicas e éticas sobre o uso de forças militares em funções civis.
Atualmente, cerca de 10.000 militares já atuam na fronteira dos EUA com o México. Seu papel tem sido majoritariamente logístico: apoio aéreo, vigilância, reforço de barreiras e liberação de agentes para atuação direta com migrantes. No entanto, há sinais de uma possível ampliação de suas funções, aumentando o caráter militarizado da fronteira.
A decisão do Supremo Tribunal e os pedidos adicionais de reforço militar mostram como o debate sobre imigração continua polarizado e sensível. A tensão entre o desejo de controle rigoroso das fronteiras e a necessidade de garantir os direitos legais e humanos dos imigrantes — incluindo os que buscam refúgio — está longe de ser resolvida.