O ministro das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), Mário Oliveira, disse em Luanda, que o satélite Angosat-2 está a trazer benefícios à vida das famílias e das empresas e que mais de 20 mil angolanos já beneficiam do serviço “Conecta Angola”, uma das ferramentas que funciona através daquele instrumento.
Mário Oliveira fez a afirmação na abertura da III edição da Conferência Espacial de África de 2024, a NewSpace Africa, esta terça-feira,2, onde se vai abordar o papel da tecnologia do espaço no combate à pobreza no continente africano.
As declarações do ministro foram feitas para responder a opiniões que colocam em causa a qualidade e a capacidade de comercialização dos serviços do projecto Angosat-2, passados cerca de dois anos do seu lançamento.
O satélite angolano custou 320 milhões de dólares e foi colocado em órbita no dia 12 de outubro de 2022, a partir do Cosmódromo de Baikanur, no Cazaquistão, numa grande cerimónia.
Projetado para 15 anos de vida útil, o satélite tem um centro de controlo em Luanda e outro na Rússia, na plataforma Eurostar-3000, na órbita geoestacionária, a uma distância de cerca de 36 mil quilómetros da superfície da Terra.
O processo de comercialização dos serviços do Angosat-2 foi aberto em Janeiro de 2023, três meses depois do envio para órbita.
Dúvidas quanto aos benefícios
O Governo tinha assegurado que como satélite de comunicações, o AngoSat-2 iria tornar mais barato e acessível o acesso aos serviços de televisão, rádio, internet e telefonia e facilitar o estudo e fertilização de solos e o combate às pragas, sobretudo no sul de Angola.
O jornalista Ilídio Manuel diz que, não obstante esse anúncio, os cidadãos continuam a queixar-se da má qualidade dos serviços de telecomunicações “e tudo indica que terá sido mais um investimento a fundo perdido, porque as possibilidades de recuperar este dinheiro são cada vez mais diminutas”.
Para o também analista político, o fato de Angola ter comprado serviços relativos ao clima a uma empresa espacial norte-americana prova que o satélite “não está a satisfazer o mercado regional e sobretudo nacional, nesta matéria também”.
Por seu lado, o político e especialista em engenharia electrónica, Laurindo Neto, começa por questionar a qualidade e o critério seguido para a seleção dos técnicos que trabalham no Centro de Controlo do Angosat 2, na região da Funda, em Luanda.
“Quando foi criado o laboratório, qual foi o critério de seleção de técnicos para monitorar um satélite quando Angola não tem formação nem cultura para um satélite e é incapaz de apresentar um satélite funcional?”, indaga Neto.
Ainda no começo
Aquando a cimeira da Comunidade para o Desenvolvimento da Árfrica Austral(SADC), realizada no ano passado, em Luanda, o ministro Mário Oliveira afirmou que os trabalhos técnicos continuam para que os países da região beneficiem dos serviços do Angosat- 2 e apontou a República da Zâmbia, o Botswana e a República Democrática do Congo (RDC) entre os países interessados nos serviços.
Entretanto, o jornal Expansão revelou, numa das suas últimas edições, que não houve até ao momento “ qualquer contrato assinado de prestação de serviços de conetividade com outros países” e que “a exploração comercial a grosso do satélite angolano ainda não arrancou”.
Citando fontes do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPN) e do Infrasat, o jornal angolano escreve que a adesão ao projeto está, neste momento, apenas na fase de receção de candidaturas de futuros clientes, sobretudo pequenas e médias empresa e startups, que pretendem redistribuir o sinal de internet do satélite nas áreas recônditas do país.
Em Angola, a gestão do AngoSat-2 é garantida pelo Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), através do Centro de Controlo e Missão de Satélites (MCC), localizado na Funda, arredores de Luanda.
O AngoSat 1 perdeu-se no espaço após ter perdido contacto com o mesmo, pouco após o seu lançameto em 2017.
A companhia angolana Infrasat é a responsável pela comercialização dos serviços do Angosat-2 para as pequenas e médias empresas e startups.
A sua estrutura acionista integra a Angola Telecom (40%), a GAFP – Investimentos e Participações SA (30%), grupo, supostamente, ligado ao partido no poder – o MPLA-, a livraria Lello, SA (20%) e a empresa Macgra (5%).
C/VOA