O cenário político angolano voltou a ganhar destaque com uma movimentação que envolve nomes de peso da oposição. Abel Chivukuvuku, líder do recém-legalizado partido PRA JA Servir Angola, teria feito uma proposta estratégica ao general Artur Vinama, um antigo quadro militar da UNITA e ex-vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA). A intenção era clara: fortalecer o partido com figuras de influência e histórico político relevante. No entanto, a tentativa não teve sucesso.
Vinama, atualmente doutorando em Direito em uma universidade portuguesa, recusou o convite para integrar a direção do PRA JA, mesmo com a oferta de ocupar uma posição de destaque — supostamente a segunda mais importante na hierarquia partidária. De acordo com fontes próximas, a sua recusa se deve ao comprometimento com a vida académica e à necessidade de manter-se afastado das turbulências políticas no momento.
A trajetória de Artur Vinama confere peso à sua decisão. Oriundo das fileiras militares da UNITA, onde ocupou cargos de liderança, foi integrado nas FAA no contexto dos acordos de paz pós-guerra civil. No entanto, em 2024, acabou afastado prematuramente de sua função nas forças armadas, em circunstâncias que muitos analistas atribuem a motivações políticas.
Sua ligação histórica com a UNITA e sua postura reservada em relação a novos movimentos partidários aumentam o simbolismo da recusa, sendo vista por alguns como uma forma de reafirmar a fidelidade à oposição tradicional.
A legalização recente do partido de Abel Chivukuvuku, após longos entraves burocráticos, gerou comentários e suspeitas nos bastidores da política angolana. Alguns setores da oposição e da sociedade civil veem o processo como tendo sido facilitado pelo regime do MPLA, com o objetivo implícito de dividir as forças opositoras, especialmente a Frente Patriótica Unida (FPU), liderada pela UNITA.
Essa percepção tem afetado a imagem e credibilidade do PRA JA, que, embora busque se afirmar como uma alternativa viável e independente, ainda precisa superar a desconfiança que ronda sua legalização em tempo oportuno.
A tentativa de Chivukuvuku de atrair figuras ligadas à UNITA pode ser vista como parte de uma estratégia para consolidar influência, mas também levanta questionamentos sobre o real impacto dessas movimentações para o campo opositor em Angola. A negativa de Vinama pode não ter sido apenas uma decisão pessoal, mas um sinal político de que as alianças na oposição ainda são voláteis e exigem clareza de propósitos.
Em tempos de reconfiguração política, cada gesto tem peso — e a recusa de um nome com prestígio militar e histórico opositor pode ser lida como mais do que uma escolha individual. É um reflexo da disputa em curso não apenas por poder, mas por legitimidade.