Início » Duas mulheres afrodescendentes disputam espaço na Política Portuguesa

Duas mulheres afrodescendentes disputam espaço na Política Portuguesa

by REDAÇÃO

As eleições legislativas antecipadas de 18 de maio em Portugal trazem à tona duas candidaturas que refletem não apenas diversidade étnica, mas também diferentes visões políticas. Eva Cruzeiro e Ossanda Líber, ambas com raízes luso-angolanas, estão entre os rostos que se destacam nesta disputa eleitoral, cada uma trilhando um caminho próprio no cenário político português.

Conhecida no mundo artístico como Eva RapDiva, a rapper e ativista de 36 anos decidiu entrar na política pelo Partido Socialista (PS). Nascida em Portugal, com ascendência angolana, Eva ocupa a oitava posição na lista de candidatos do PS pelo círculo eleitoral de Lisboa.

Com formação em Ciência Política e Relações Internacionais, além de especialização em Gestão Financeira e Direitos Humanos, Eva afirma que não entrou na política por ambição pessoal, mas pelo desejo de representar aqueles que se sentem excluídos do processo político. “Não poderia ficar indiferente ao que está a acontecer em Portugal e no mundo”, declarou, referindo-se ao crescimento do extremismo, racismo e discurso de ódio.

Eva destaca o retrocesso social, especialmente no que diz respeito à violência contra mulheres e grupos vulneráveis. Para ela, sua presença na política representa uma voz de resistência e mudança.

Ossanda Líber: Conservadorismo e Integração sob a Perspectiva da Nova Direita

Do outro lado do espectro político está Ossanda Líber, empresária de 48 anos, nascida em Angola e radicada em Portugal após uma temporada na França. Ela lidera o recém-criado partido Nova Direita (ND), formalizado em 2024, e volta ao cenário político após experiências anteriores, como candidata à Câmara de Lisboa e como vice-presidente do partido Aliança.

Ossanda defende uma política baseada em valores familiares e maior envolvimento cívico das comunidades imigrantes. Em suas palavras, é essencial que os afrodescendentes compreendam o poder da participação política. “Vocês têm uma ferramenta poderosa nas mãos e não a estão a usar”, tem dito em encontros com as comunidades.

Apesar de criticar a abordagem do partido Chega, Ossanda adota um discurso firme sobre imigração, defendendo regras claras e combatendo o que considera abusos. Para ela, o problema da imigração está na falta de organização e em pessoas que vêm ao país apenas com interesse em obter nacionalidade.

A socióloga Luzia Moniz analisa o cenário com ceticismo quanto à inclusão real de afrodescendentes na política portuguesa. Para ela, a presença limitada de pessoas negras em cargos de liderança reflete o racismo estrutural e institucional que ainda persiste em Portugal.

Segundo Moniz, a própria repercussão da candidatura de Eva Cruzeiro revela o quanto ainda é “anormal” ver representatividade negra no Parlamento. Ela também destaca a invisibilidade dessas comunidades nos meios de comunicação e a ausência de políticas de igualdade racial entre os partidos portugueses — algo que contrasta, por exemplo, com a pauta de inclusão no futebol.

Para além da representatividade, Luzia reforça que o país perde ao não valorizar as competências técnicas, intelectuais e políticas de uma parcela significativa da sua população: “Esse desperdício humano tem também um custo económico considerável.”

As candidaturas de Eva Cruzeiro e Ossanda Líber mostram que há caminhos diversos para a presença afrodescendente na política portuguesa — seja pela via progressista ou conservadora. Mais do que suas diferenças ideológicas, ambas representam um avanço no debate sobre inclusão, identidade e cidadania. Resta saber se o eleitorado estará pronto para acompanhar essa mudança.

related posts

Leave a Comment