Excelentíssimo Senhor Presidente,
Sou cidadão angolano, nascido e residente na cidade do Huambo. Poeta Ukwanana é o pseudônimo que escolhi para me expressar como ativista cívico, fazedor de opinião e estudante de Ciências da Comunicação. Dirijo-me a Vossa Excelência nesta carta aberta para manifestar a minha inquietação sobre a forma como o país tem sido governado e, em particular, sobre a exoneração do vice-governador para o setor técnico e de infraestrutura do Huambo, Elmano Inácio.
Nos últimos 30 anos, observei o percurso do MPLA e, ao longo das últimas duas décadas, a minha percepção sobre o partido mudou significativamente. O que vejo hoje é um partido que já não responde às vontades populares, algo que se reflete na forma como somos governados.
A exoneração de Elmano Inácio chamou minha atenção. Conheci-o pessoalmente no Huambo, embora tenha conversado com ele apenas duas vezes. No entanto, foi suficiente para perceber que era um homem comprometido, respeitador da hierarquia e acessível à sociedade civil. Ao analisar o seu currículo, fica claro que se trata de um quadro qualificado, com experiência em economia e engenharia civil, áreas fundamentais para uma Angola em reconstrução.
Compreendo que os cargos públicos não são permanentes, mas pergunto: por que razão um profissional com qualificação comprovada e reconhecimento da população deve ser afastado simplesmente por “conveniência política”? Por que a meritocracia não é um critério central nas nomeações e exonerações do governo?
Elmano Inácio, apesar das falhas que qualquer gestor pode ter, destacava-se como um dos poucos governantes acessíveis à população e disposto a responder prontamente às questões relacionadas ao seu setor. Ele era visto, até mesmo dentro do MPLA, como um dos poucos dirigentes de espírito aberto e sem protocolos excessivos para dialogar com o povo. Sua exoneração foi lamentada por muitos, tanto nas redes sociais quanto em conversas informais.
Nos últimos anos, o Huambo perdeu figuras importantes como João Batista Kussumua e o arquiteto Kalunga. Agora, perde Elmano Inácio. Esse padrão nos leva a concluir que, em Angola, a meritocracia é uma miragem. A exoneração de quadros competentes por interesses políticos enfraquece a administração pública e impede o avanço do país.
Não sou militante do MPLA e nem pretendo ser, mas assumo que o partido tem contribuído para o desperdício de talentos ao priorizar conveniências políticas em detrimento da competência.
Diante disso, faço um apelo a Vossa Excelência: olhe para o povo. Governar para o povo significa colocar as pessoas certas nos lugares certos. Significa valorizar a meritocracia e trabalhar com verdadeiros patriotas, pessoas que têm capacidade técnica e compromisso com o desenvolvimento do país.
O meu apelo não é motivado por paixões políticas, mas sim pelo amor à nossa pátria. Como cidadão esclarecido, disposto a dar a vida por Angola, levanto esta voz em nome de muitos que não têm voz.
Atenciosamente,
Poeta Ukwanana