Luanda — Angola vive uma nova onda de tensão social e política, impulsionada por medidas económicas impopulares, denúncias graves da oposição e sinais de disputa interna no seio do partido no poder.
A juventude angolana promete ocupar as ruas no próximo sábado, 12 de Julho, numa marcha nacional convocada por organizações da sociedade civil e estudantil. Sob o lema *“O Teu Silêncio Mata – Mais do que a Malária em Angola”*, o protesto visa contestar o recente aumento do preço dos transportes públicos, na sequência do reajuste dos preços dos combustíveis.
A mobilização tem como ponto de partida o Mercado do São Paulo, em Luanda, com destino à Assembleia Nacional. O aumento da tarifa dos táxis colectivos para 300 kwanzas, anunciado pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), foi o estopim da indignação, sobretudo entre estudantes, trabalhadores informais e famílias de baixos rendimentos.
O Movimento de Estudantes Angolanos (MEA) classificou a medida como “um atentado ao direito à educação e à mobilidade estudantil”, sublinhando a ausência de políticas públicas eficazes, como um passe escolar, que possa mitigar o impacto do novo custo do transporte. Segundo o MEA, o Executivo deveria investir no transporte público estatal em vez de sobrecarregar os cidadãos com custos do sistema privado.
No plano político, uma polémica reacendeu os debates em torno da democracia e do futuro da liderança nacional. O presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, alegou ter sido abordado por representantes do Presidente João Lourenço com propostas para apoiar uma possível revisão constitucional, que abriria caminho a um terceiro mandato.
As declarações, feitas durante o fórum “Economia 100 Makas”, foram prontamente desmentidas pela Presidência da República, que as considerou “infundadas e gravemente ofensivas”, desafiando o líder da oposição a apresentar provas ou enfrentar processos judiciais.
O episódio gerou forte reacção pública e alimentou temores de uma possível tentativa de prolongamento do actual mandato presidencial para além do limite constitucional. Muitos analistas apontam essa alegada intenção como uma das causas ocultas por trás da crescente onda de protestos.
Em meio ao ambiente de tensão, o general reformado Higino Carneiro lançou-se como pré-candidato à liderança do MPLA, sinalizando uma possível cisão dentro do partido no poder. Com um discurso centrado na valorização da militância e no resgate dos princípios históricos do partido, Carneiro defendeu o fim da “cultura do sim, chefe” e pediu mais pluralismo e inclusão interna.
“É hora de devolver ao militante o protagonismo político e resgatar a confiança do povo”, afirmou o antigo dirigente, cuja posição poderá provocar novas dinâmicas no seio do MPLA e abalar a liderança de João Lourenço.
A movimentação de Higino Carneiro é vista por observadores como o início de uma disputa pelo comando do partido, que poderá refletir-se nas próximas eleições internas e no rumo político do país.
Com a aproximação da manifestação e as tensões internas no MPLA, Angola entra numa fase de alta instabilidade política e social. Os próximos dias serão decisivos para medir o grau de adesão popular ao protesto de sábado e para avaliar as repercussões das movimentações no cenário político nacional.

