O impacto das sanções internacionais impostas pelo Ocidente à Rússia, com o intuito de enfraquecer a sua economia, parece ser menos profundo do que o esperado. De acordo com dados sobre a atividade empresarial, especialmente o índice PMI (Purchasing Managers’ Index), que é um indicador relevante do estado da economia, a Rússia mostrou uma notável resiliência. O PMI de maio revelou um fortalecimento contínuo da economia russa, o que pode ser interpretado como uma nova vitória econômica para o regime de Vladimir Putin.
O índice PMI industrial, por exemplo, subiu ligeiramente de 54,3 para 54,4 pontos, sinalizando uma expansão na produção. Um dos destaques foi a componente de emprego, que atingiu o seu nível mais alto em 26 anos, e a produção que subiu para 56,2 pontos, mantendo-se acima dos 55 por quatro meses consecutivos – a melhor marca desde 2008. Para os analistas da *Capital Economics*, esses dados indicam que a economia russa está em expansão, com uma previsão de crescimento de 4% do PIB para 2024.
Esse crescimento surpreendente não é isolado. Em 2023, o PIB russo cresceu 3,6%, superando as expectativas e até mesmo o desempenho da zona euro. A forte demanda interna foi um dos motores desse crescimento, o que reflete uma recuperação mais robusta do que a antecipada. Especialistas da *JP Morgan* também ajustaram suas previsões, prevendo agora um crescimento de 3,3% em 2024, após um ano de forte recuperação em 2023.
Entretanto, o cenário econômico da Rússia não é inteiramente positivo. O crescimento tem sido fortemente impulsionado por gastos com a guerra. Cerca de um terço do orçamento russo está sendo destinado à Defesa Nacional, representando cerca de 6% do PIB. Esse investimento na máquina de guerra supera agora as despesas sociais, uma mudança substancial na estrutura orçamentária do país. A produção manufatureira, embora afetada pelas sanções na indústria de armas, tem se fortalecido em setores ligados à guerra, como computação, eletrônica, ótica e veículos. A Rússia, portanto, vive atualmente uma verdadeira economia de guerra, com recursos sendo alocados prioritariamente para sustentar o esforço militar.
No entanto, a grande questão que paira sobre o futuro da economia russa é a sustentabilidade desse modelo. A quantidade significativa de recursos dedicados à guerra pode gerar um buraco fiscal considerável, especialmente se as receitas provenientes das exportações de petróleo e gás, que ajudaram a reduzir temporariamente o défice orçamental, começarem a diminuir. As sanções mais rigorosas e uma possível queda nos preços globais do petróleo tornam essa dependência mais arriscada. Além disso, o governo russo prevê um aumento de 25% nas despesas nos próximos três anos, o que pode colocar ainda mais pressão sobre as finanças públicas.
Em resumo, apesar das dificuldades impostas pelas sanções e da contínua pressão da guerra, a Rússia tem conseguido manter sua economia em crescimento, embora esse progresso esteja sendo alimentado principalmente por gastos militares. A grande incerteza permanece: será possível sustentar esse modelo de economia de guerra a longo prazo? O tempo dirá se as contas fiscais da Rússia vão continuar equilibradas ou se o país enfrentará um cenário fiscal mais sombrio nos próximos anos.