Cabinda – Recentemente, o Ministério do Interior tomou uma decisão drástica ao suspender o Comandante Provincial da Polícia Nacional de Cabinda, Francisco Baptista Notícia. A medida veio após investigações revelarem sua participação em um esquema de desvio de verbas provenientes de multas de trânsito e aviação, envolvendo crimes de peculato e associação criminosa.
Além do comandante, figuras importantes como o Juiz Presidente da Comarca de Cabinda, Domingos Nelson Manso Wilson, e o ex-governador provincial, Marcos Alexandre Nhunga, também estão implicados no caso. A denúncia partiu de Víctor Gerónimo, diretor dos Serviços de Investigação Criminal (SIC) em Cabinda, que foi suspenso por Notícia ao descobrir que estava sendo investigado. Gerónimo, inconformado com a suspensão, levou o caso às autoridades superiores em Luanda, desencadeando uma reação do Ministro do Interior, Eugénio César Laborinho, que não só suspendeu o comandante, mas também submeteu o caso ao Presidente da República para sua exoneração.
Segundo o relatório do SIC de Cabinda, o esquema funcionava principalmente na estrada EN201, onde multas irregulares eram aplicadas a caminhões que transitavam na rota entre Cabinda e a fronteira com a República Democrática do Congo. Os valores arrecadados com essas multas eram desviados para contas de laranjas, vinculados ao comandante e ao ex-governador, e parte desse dinheiro era investido por empresários estrangeiros e transferido para uma empresa de segurança.
A trama ganhou novos contornos quando o Juiz Presidente de Cabinda, Domingos Nelson Manso Wilson, foi acusado de ter recebido subornos, incluindo um apartamento, para favorecer os envolvidos no esquema. Ele teria ordenado, de maneira irregular, a soltura dos principais executores do esquema, Agostinho Nhimi e Mbiyavanga Sunda, por meio de mandados de habeas corpus, gerando grande controvérsia, já que os processos ainda estavam em andamento na Procuradoria Geral de Cabinda.
Francisco Baptista Notícia, que se formou em Portugal, ganhou notoriedade em Luanda durante seu comando no Sambizanga, onde foi acusado de reprimir violentamente manifestantes contrários ao governo de José Eduardo dos Santos. Seu envolvimento em episódios de violência, incluindo agressões à ativista Laurinda Gouveia, não impediu sua ascensão na hierarquia policial, culminando em sua nomeação como comandante de Viana e, posteriormente, de Cabinda, em 2022.
Agora, o escândalo de desvio de fundos não só mancha sua carreira, mas também levanta questionamentos sobre a profundidade da corrupção nas instituições governamentais da região. As investigações continuam, com a prisão de vários envolvidos, enquanto a sociedade angolana aguarda por justiça e responsabilização daqueles que abusaram de suas posições de poder.