A recolha e comercialização de material (preferencialmente ferro – velho) é uma prática que, entre nós, data do tempo colonial, actividade que hoje é, comum mente, conhecida por “peso”, incidindo sobre matéria orgânica que, aparentemente não tem qualquer utilidade, e por este olhar, muita coisa nova passa como velha.
A concepção natural deste exercício nunca esteve associada a quaisquer tendências malignas, aliás, sempre foi aproveitada como oportunidade para a aquisição de alguns “vinténs” que, em certa medida, ajudam a resolver determinadas carências dos que lidam com o ofício.
Deste pressuposto, a actividade foi sempre encarada como normal e os seus agentes directos, geralmente cidadãos em situação de vulnerabilidade, com as melhores das intenções, merecedores do respeito de todos.
Porém, a dinâmica evolutiva da vida na sociedade angolana reconfigurou a prática em referência e, infelizmente, com sinais de preocupação pela forma como parte do pseudo ferro – velho é adquirido.
Diz-se à boca pequena que em várias províncias o material comercializado resulta de acções criminosas como furto de viaturas e motociclos que, depois de completamente desmanchados, são vendidos como se de ferro-velho se tratasse.
No mesmo processo são incluídos equipamentos públicos vandalizados, tais como tampas de sarjetas, esgotos, portas de cabines de energia eléctrica e outros meios com valor no processo de compra e venda, com muito do mal a ele associado.
Na província de Huíla, conforme relatos recentemente divulgados por vários meios de comunicação social, a situação ganha contornos alarmantes, ao ponto de os locais de compra e venda estarem quase todos eles em situação de clandestinidade.
Esse dado demonstra a necessidade de realização de uma profunda investigação por parte dos órgãos competentes, para que seja aferida a verdade do que se diz e, naturalmente, existindo provas, serem accionados os mecanismos legais de punição aos prevaricadores, com base nos instrumentos que regulam a matéria.
Outro dado que deve levantar alguma suspeição tem que ver com a presença de vários cidadãos estrangeiros na cadeia do processo de compra e venda de ferro velho que,com base nas denúncias são apresentados como autores morais, salvaguardando o erro da nossa asserção representar uma acusação gratuita, que não é a nossa intenção mas, assim sendo, auto – penetenciamo-nos, antecipadamente.
Pelo que corre, urge questionar se, de facto, em certos casos, o negócio não está a ser realizado com base numa rede bem estruturada com laivos de malfeitorias e apetência pelo lucro fácil, sem se olhar aos meios? E, se sim, o que falta para a devida actuação?
Reconhecemos que uma das características das sociedades democráticas é o exercício do comércio livre. Porém, recomenda a urbanidade do referido modelo político que as oportunidades de negócio não derivem de actos criminosos.