Vamos assistir a uma reedição da disputa entre Joe Biden e Donald Trump nas próximas eleições para a presidência dos Estados Unidos da América (EUA), em novembro, mas em posições invertidas, com o primeiro a ser, agora, o incumbente, e o segundo o desafiador, quando há quatro anos foi ao contrário. Estas eleições de desforra, as primeiras em quase 70 anos, eram esperadas pelos analistas e estão praticamente confirmadas quando está cumprido cerca de metade do percurso para escolha dos candidatos, depois da Super Terça-Feira, em que 17 estados realizaram primárias ou caucuses.

Donald Trump venceu todas as votações menos duas, ganhas pela sua derradeira adversária, Nikki Haley, antiga governadora da Carolina do Sul, no dia carregado de 5 de março, mas que foram insuficientes para que se mantivesse na corrida. Trump deverá ser formalizado como candidato na convenção do Partido Republicano, que se realizará entre 15 e 18 de julho, em Milwaukee, no Wisconsin.

Joe Biden venceu todas as votações feitas até agora e deverá ser confirmado como candidato a um segundo mandato presidencial na convenção do Partido Democrata, que decorrerá cerca de um mês depois da do Partido Republicano, entre 19 e 22 de agosto, em Chicago, no estado do Illinois.

Se antes se antevia o processo das primárias como um proforma, desde a Super Terça-Feira que o panorama político ficou mais claro e foi dado o tiro de partida para a corrida presidencial. O discurso de Joe Biden sobre o Estado da Nação, feito dois dias depois, foi já um claro elemento de campanha – em vez da tradicional lista de conquistas e objetivos políticos -, em que Trump foi criticado inúmeras vezes, ainda que nunca nomeado.

Os analistas dão nota positiva ao discurso, por ter sido mais assertivo e energético, recusando a ideia de que a idade do presidente é uma limitação e contrariando os republicanos, que questionam a sua saúde e a sua memória. Biden, aos 81 anos, será o candidato presidencial mais velho de sempre por um grande partido, e, se reeleito, será o mais velho inquilino da Casa Branca.

Biden falou sobre economia – que está melhor do que o esperado -, mas focou-se na política externa, garantindo que não retrocederá no apoio à Ucrânia para parar a Rússia.

Depois da clarificação da Super Terça-Feira e do discurso do Estado da Nação, Biden vai para a estrada, com eventos agendados em estados decisivos, os chamados swing states, em que o voto alterna entre candidatos republicanos e democratas. Estará na Pensilvânia e na Geórgia, que conquistou em 2020 e que foram decisivas na sua eleição, seguindo depois para o Wisconsin e o Michigan.

A vice-presidente, Kamala Harris, também estará em campanha e também em swing states.

Biden estará presente na televisão e nas plataformas digitais, com uma campanha de 30 milhões de dólares (cerca de 27,4 milhões de euros), em seis semanas, e a sua equipa prevê mais do que triplicar até ao final do mês, para 350 funcionários, em sete estados decisivos, abrindo mais de 100 escritórios no terreno.

As sondagens têm apontado para uma vantagem de Trump, mas muitas das últimas, divulgadas nesta semana, apontam para uma ligeira vantagem de Biden, ainda que se considere que se regista um empate técnico entre os dois, porque nenhum tem uma vantagem superior à margem de erro do estudo.

O estudo da Florida Atlantic University e da empresa Mainstreet Research, feito em 15 dos estados onde se realizaram primárias na terça-feira, dá a Biden uma vantagem de dois pontos percentuais sobre Trump, enquanto o último estudo da revista The Economist aponta para um ponto de vantagem do antigo presidente face ao atual titular do cargo.

Apesar da vitória praticamente garantida nas primárias, Donald Trump tem de ultrapassar outros obstáculos para chegar à Casa Branca, mas no campo da justiça, ainda que tenha utilizado os processos em que está envolvido como peças de campanha eleitoral, afirmando-se como o candidato contra o sistema.

Para já, conquistou o direito a constar dos boletins de voto das primárias, depois de o Supremo Tribunal ter decidido a seu favor, rejeitando a pretensão de alguns estados que pretendiam inibi-lo de participar nas eleições ao abrigo da 3.ª secção da 14.ª Emenda da Constituição dos EUA, que estabelece que ninguém pode ser eleito ou nomeado para cargos públicos se se tiver envolvido em “insurreição ou rebelião” contra a Constituição ou ter providenciado “ajuda ou conforto aos seus inimigos”.

No entanto, enfrenta também quatro processos judiciais – dois federais e dois estaduais – em que é acusado de 91 crimes, que envolvem a sua vida política, principalmente as tentativas para reverter os resultados eleitorais de 2020, mas também os seus negócios. Os julgamentos suceder-se-ão a partir deste mês, transferindo boa parte da corrida à Casa Branca para os tribunais.