O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco defendeu a necessidade de encontrar mecanismos pacíficos para “acabar com o regime” vigente em Angola, que considera autoritário e repressivo. Em entrevista exclusiva à DW, o ex-dirigente do MPLA abordou temas como a despartidarização do Estado, as liberdades fundamentais e o futuro político do país.
Marcolino Moco começou por comentar o atual cenário das liberdades e garantias fundamentais, numa altura em que Angola foi eleita para o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas para o período 2026-2028. O político mostrou-se crítico, afirmando que o país vive “uma vergonha nacional”, ao manter pessoas presas sem motivo justo.
“Esses jovens estão presos porquê? Qual é a diferença entre o que acontece hoje e o que faziam os colonizadores? A diferença é para pior”, afirmou, referindo-se aos detidos nas manifestações e greves motivadas pelo aumento dos preços dos combustíveis e do transporte público.
“Um caminho para acabar com o regime”
Moco recordou que, meio século após a independência, as lideranças africanas perderam o direito de culpar a colonização europeia pelos problemas atuais, defendendo que é hora de exigir responsabilização interna.
O ex-primeiro-ministro reconheceu o descontentamento dos jovens e disse compreender a frustração de quem fala em mudança através da violência, mas rejeitou essa via.
“É evidente que não defendo o derramamento de sangue. Mas é possível encontrarmos um caminho para acabar com este tipo de regime, que se apresenta como democrático, mas que persegue e castiga mais do que vi o colono e a PIDE fazer”, disse.
“Não se trata apenas do MPLA”
Questionado sobre se “acabar com o regime” significaria retirar o MPLA do poder, Marcolino Moco respondeu que o problema ultrapassa os partidos.
“Não necessariamente. Poderia estar outro partido qualquer no poder a fazer o mesmo. O que defendo é a transformação do regime, sem referência a partidos políticos”, explicou.
O ex-chefe de governo defende que a despartidarização do Estado é essencial para restaurar a credibilidade das instituições. Moco sublinha que a reforma deve ocorrer sem favoritismos, envolvendo todas as forças políticas.
“Devemos pôr de lado o MPLA e também a UNITA. Só que o MPLA está colado ao Estado e é o principal agente da partidarização. Se amanhã a UNITA ocupar o lugar, fará o mesmo”, alertou.
Com estas declarações, Marcolino Moco volta a posicionar-se como uma das vozes mais críticas do sistema político angolano, apelando a uma transição baseada no diálogo, na justiça e no fim da captura partidária do Estado.

