O debate sobre a sucessão política na UNITA reacende também a reflexão sobre o legado do seu fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, figura central da história contemporânea de Angola. O articulista Carlos Henriques destaca que, apesar dos defeitos e contradições, Savimbi possuía uma qualidade inegável: a convicção de que as pessoas certas devem ocupar os lugares certos para cumprir os objetivos do movimento.
Savimbi, segundo o texto, era um estratega disciplinado, capaz de conciliar rivalidades e reorganizar rapidamente o comando sempre que necessário. Mesmo diante de conflitos com figuras como Eugénio Manuvakola, Samuel Chiwale ou Sachipengo Nunda, sabia reconhecer a importância de cada um no momento certo.
“Era lógico e meticuloso, como um comandante que sabia que vidas dependiam do seu critério”, escreve Henriques.
A figura de Rafael Massanga Savimbi, filho biológico do fundador, surge no texto como símbolo de uma tentativa de reencarnação política. Henriques alerta, no entanto, para os riscos dessa narrativa, que substitui mérito por genealogia e instituições por linhagens.
“Transformar herança em programa e o passado em fotocópia é um caminho perigoso”, adverte.
O autor considera que, embora Massanga recorra à imagem do pai, a política não se sustenta apenas na herança familiar, mas sim na capacidade de construir e inovar.
Formado na China maoísta, Savimbi valorizava a disciplina e a mobilização como instrumentos de modernização da luta. Foi responsável por transformar uma guerrilha dispersa num movimento com estrutura militar e logística avançada, capaz de operar com rádio, artilharia e mísseis.
Nesse contexto, Henriques destaca o papel de Adalberto Costa Júnior (ACJ), atual presidente da UNITA, como um dos continuadores da visão estratégica do fundador.
“Savimbi via em ACJ um verdadeiro filho, não por sangue, mas por obra”, recorda o texto, sublinhando que o líder histórico mantinha com ele uma relação próxima e de confiança.
O artigo observa que a nova geração de eleitores angolanos já não se identifica com a retórica das décadas passadas. Jovens que nasceram depois do fim da guerra civil procuram educação de qualidade, empregos, saúde e transparência, e esperam que a política ofereça soluções concretas, não heranças simbólicas.
Para chegar a esse eleitorado, a UNITA precisa de abrir-se ao diálogo e à diferença, argumenta o autor.
“Os partidos crescem quando acolhem quem chega, integram a diversidade e transformam estranhos em aliados”, escreve Henriques, lembrando que a força do movimento deve residir na sua capacidade de se renovar, sem perder o sentido de missão nacional.
O texto conclui que o verdadeiro legado de Jonas Savimbi não está no sangue, mas na obra política e na visão estratégica que consolidou a UNITA como força política moderna, capaz de disputar o poder por via democrática e com base no voto popular.

