Maputo – O Governo moçambicano manifestou esta sexta-feira a sua deceção com a organização Human Rights Watch (HRW), acusando-a de não ter solicitado o contraditório antes da divulgação de um relatório sobre o aumento dos raptos de crianças em Cabo Delgado, atribuídos a grupos armados insurgentes que atuam na região desde 2017.
Lusa
Em conferência de imprensa, o porta-voz do Executivo, Inocêncio Impissa, lamentou que a organização tenha divulgado dados sem primeiro consultar as autoridades moçambicanas. “É extremamente difícil comentar uma informação que não nos foi previamente apresentada”, afirmou, pedindo às organizações não-governamentais “maior responsabilidade” e abertura ao contraditório.
O relatório da HRW, publicado em junho, denuncia que mais de 120 crianças terão sido sequestradas pelos insurgentes entre maio e junho de 2025. De acordo com a organização, os menores são forçados a transportar bens saqueados, realizar trabalhos forçados, a contrair casamentos forçados e até a participar diretamente em combates. A denúncia é sustentada por fontes como Abudo Gafuro, diretor da ONG moçambicana Kwendeleya.
Governo garante assistência às vítimas
Apesar das críticas, o Governo afirma que tem vindo a prestar apoio humanitário às vítimas resgatadas, incluindo mulheres e crianças, através da realocação em centros de acolhimento, formação profissional e atividades pedagógicas para crianças com o objetivo de aliviar traumas e promover reintegração.
O Executivo reitera ainda que existe uma rede institucional de registo e verificação de ocorrências em Cabo Delgado, o que permitiria à HRW obter dados fiáveis, caso tivesse solicitado oficialmente informações.
Segundo o mais recente relatório das Nações Unidas sobre Crianças e Conflitos Armados, Moçambique registou em 2024 um aumento de 525% nos casos de graves violações contra crianças em zonas de conflito, sendo o segundo maior crescimento mundial, apenas superado pelo Líbano. O documento indica que, em Cabo Delgado, foram confirmadas 954 violações que afetaram 507 menores.
O relatório da ONU destaca a urgência de reforçar medidas de proteção infantil nas zonas afetadas pela violência armada, onde milhares de civis continuam a ser alvo de deslocamentos, abusos e recrutamento forçado por parte de grupos extremistas.

