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“Enquadramento já!”: Candidatos aprovados no concurso da educação protestam em Benguela

by REDAÇÃO

As ruas de Benguela foram palco de uma manifestação pacífica mas carregada de frustração. Candidatos ao concurso público do Ministério da Educação (2023/2024), que obtiveram notas positivas mas ainda assim foram excluídos do processo de recrutamento, exigem respostas concretas e o seu imediato enquadramento no sistema de ensino.

O protesto, organizado sob o lema “Enquadramento Imediato Já”, reuniu dezenas de manifestantes que se autodenominam “positivistas”. Estes jovens afirmam ter cumprido todos os requisitos estipulados pelo concurso, incluindo a obtenção de notas iguais ou superiores à média exigida. No entanto, alegam terem sido ignorados pelo Ministério da Educação (MED), atualmente liderado por Luísa Grilo, sem qualquer explicação convincente.

Um dos argumentos centrais da manifestação é o paradoxo entre a exclusão desses candidatos e o grave déficit de professores no país. Estima-se que o sistema de ensino em Angola careça de aproximadamente 60 mil docentes para atender à crescente demanda nas escolas públicas.

O país precisa de professores — essa é a realidade”, declarou Dadilson Epalanga, coordenador do grupo em Benguela. “Se há necessidade de novos profissionais, por que o Executivo não tem sensibilidade para enquadrar jovens que tiveram 14, 15 ou até 16 valores?

Epalanga também criticou a postura do Gabinete Provincial da Educação, que, segundo ele, tem se mantido em silêncio diante dos apelos do grupo. “Não há diálogo. Até agora, o silêncio tem sido a única resposta que recebemos”, lamentou.

O protesto em Benguela contou com o apoio do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA). Em missão na província, o secretário para Assuntos Jurídicos do MEA, António Cahebo, revelou que a organização está a preparar, em conjunto com a coordenação nacional dos excluídos, um documento formal a ser dirigido à Presidência da República.

Segundo Cahebo, o objetivo é pressionar o Executivo a rever a situação e a adotar medidas que permitam o enquadramento dos candidatos aprovados. “Não se trata apenas de uma questão administrativa, mas de justiça social e valorização da juventude angolana”, defendeu.

A manifestação teve início no Liceu de Benguela e seguiu em marcha até o Largo da Juventude, sob escolta da Polícia Nacional. Sem incidentes, o protesto mostrou não apenas organização, mas também a maturidade cívica de uma juventude que exige ser ouvida.

A exclusão de candidatos com notas positivas levanta questões sobre a gestão de recursos humanos no setor da educação. A aparente contradição entre a falta de professores e a não contratação de candidatos aprovados desafia a lógica e reforça a percepção de desorganização e falta de transparência no processo.

Para além da indignação dos jovens excluídos, está em causa a própria qualidade do ensino em Angola. Num país onde milhares de crianças continuam sem acesso a professores qualificados, manter fora do sistema jovens capacitados e dispostos a trabalhar é, no mínimo, contraproducente.

Enquanto o Executivo permanece em silêncio, os “positivistas” continuam a organizar-se, agora com o apoio de movimentos estudantis e da sociedade civil. O apelo é claro: mais do que um emprego, eles pedem coerência, respeito e a oportunidade de contribuir para um sistema de ensino que tanto precisa deles.

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