Após três dias de paralisação, os médicos residentes do Hospital Central de Maputo (HCM) decidiram suspender temporariamente a greve, como resultado de um entendimento alcançado com o Governo. O acordo prevê o início do pagamento das horas extras em atraso há mais de 17 meses, um dos principais pontos da reivindicação da classe.
O processo de negociação entre os médicos residentes e o Executivo moçambicano foi longo e marcado por várias rondas de diálogo. A decisão de retomar as atividades surge como um gesto de confiança, após o compromisso do Governo de iniciar os pagamentos de forma faseada já a partir deste mês.
Em declarações à imprensa, um dos representantes dos médicos residentes destacou que a suspensão da greve também tem em consideração o impacto causado aos doentes, aos profissionais da saúde e ao setor da formação médica.
“Acreditamos que o Governo está comprometido tanto com a formação de especialistas quanto com a prestação de cuidados de saúde ao povo moçambicano. Por isso, decidimos retomar as nossas atividades e dar esse voto de confiança ao Ministério da Saúde”, afirmou.
O representante indicou ainda que a retomada das horas extraordinárias será monitorada de perto, com expectativa de que a coordenação entre as partes evolua positivamente.
O presidente da Associação Médica de Moçambique, Napoleão Viola, alertou que a suspensão da greve não significa o fim da luta. Caso o Governo falhe em cumprir os compromissos assumidos, novas medidas poderão ser adotadas, incluindo a convocação de médicos de todo o país para uma reflexão nacional sobre o futuro da classe.
“Se o acordo não for honrado, teremos de considerar uma nova paralisação. E desta vez, poderá ser mais abrangente e mais dura”, advertiu Viola.
Apesar da tensão gerada nos últimos dias, os médicos residentes reconhecem que houve avanços importantes na negociação com o Governo. Parte das reivindicações apresentadas no caderno entregue ao Executivo já está a ser analisada e algumas soluções começam a ser desenhadas.
Esta é a segunda vez, em dois anos, que os profissionais do HCM suspendem os serviços devido ao não pagamento de horas extraordinárias. A situação reflete os desafios estruturais que o setor da saúde enfrenta no país e reforça a necessidade de maior diálogo e compromisso entre os profissionais de saúde e as autoridades governamentais.