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Quem é o verdadeiro culpado pela rutura da Frente Patriótica Unida?

by REDAÇÃO

A recente desintegração da Frente Patriótica Unida (FPU), uma coligação que prometia mudar o rumo político de Angola, abalou o cenário da oposição e é vista por muitos como uma vitória estratégica do MPLA, que poderá enfrentar as eleições de 2027 com os seus maiores adversários divididos.

Formada em 2021, a FPU unia três forças políticas: a UNITA, o PRA-JA Servir Angola e o Bloco Democrático. A aliança pretendia ser uma frente comum para desafiar o partido no poder, mas ruíu antes de completar o ciclo eleitoral previsto.

A rutura foi tornada pública na semana passada, quando o PRA-JA, liderado por Abel Chivukuvuku, denunciou ter sido excluído da coligação. Entre as alegações estão a marginalização do partido nas decisões estratégicas, a ausência de um secretariado executivo comum e a má gestão dos fundos parlamentares pela UNITA.

Em contrapartida, o maior partido da oposição acusou Chivukuvuku de traição e desinteresse, especialmente após a legalização do seu próprio partido. Para muitos membros da UNITA, o líder do PRA-JA teria priorizado os seus projetos pessoais em detrimento da causa comum.

Para o comentador Celestino Lumbungululu, a culpa maior recai sobre Abel Chivukuvuku, que teria abandonado a agenda coletiva da oposição após alcançar a legalização do PRA-JA. “Ele deixou de pensar em conjunto e passou a centrar-se apenas na sua causa política”, afirmou à DW.

No entanto, Feliciano Lourenço, também analista político, considera que a responsabilidade deve ser partilhada. Segundo ele, Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA, também falhou como líder da coligação. “Durante a campanha dizia que não aceitaria fraudes, mas depois recuou em seu discurso. Isso revela falta de coerência e coragem política”, argumenta.

A desunião expõe a fragilidade da oposição angolana, que ainda luta para se organizar em torno de um objetivo coletivo. Celestino Lumbungululu critica a falta de clareza: “Querem ser apenas oposição com cargos e benefícios? Ou estão realmente comprometidos com a mudança em Angola?”

Feliciano Lourenço vai além e diz que a FPU nasceu fragilizada, ao ser tratada como um projeto partidário, e não como um projeto de Estado. Para ele, a Frente precisava de líderes sérios, comprometidos e dispostos a construir algo além das ambições individuais.

O antigo presidente da UNITA, Isaías Samakuva, também comentou a queda da Frente, reafirmando sua descrença no projeto desde o início. Para ele, a falta de alinhamento estratégico e de objetivos comuns condenou a FPU ao fracasso.

“Se a oposição trabalhar de forma coordenada, há espaço para vencer. Mas isso só é possível com unidade verdadeira, não com alianças de fachada”, disse.

A rutura da Frente Patriótica Unida não tem um único culpado. O que se observa é uma conjugação de egos, falta de visão coletiva e ausência de um pacto político sólido. Enquanto o MPLA se beneficia da fragmentação da oposição, a verdadeira vítima é o eleitor angolano, que continua à espera de uma alternativa consistente e coesa.

 

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