O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), uma das maiores instituições financeiras do continente, aprova anualmente mais de 10 mil milhões de euros em financiamentos. No entanto, uma investigação recente lançada pela Jeune Afrique levanta sérias dúvidas sobre a eficácia e a transparência desses investimentos — especialmente num momento decisivo, às vésperas de uma eleição crucial para o futuro da instituição.
Um dos casos mais controversos ocorre na República Democrática do Congo (RDC), onde foi alocado um financiamento de 110 milhões de euros para um programa ambicioso de formação agrícola. O projeto, que tinha como meta transformar comunidades rurais, parece estar longe de cumprir seu propósito.
Na vila de Bobisi, situada na província de South Ubangi, na fronteira com a República Centro-Africana, a realidade no terreno está muito distante das promessas feitas. Composta por algumas dezenas de cabanas e poucos edifícios de alvenaria, Bobisi continua sem acesso à rede elétrica, abastecimento de água potável ou infraestrutura básica de saneamento. O aeroporto mais próximo está a 160 km de distância, dificultando ainda mais qualquer tipo de desenvolvimento acelerado.
Segundo a reportagem assinada por Thaïs Brouck e publicada em abril de 2025, o caso de Bobisi é apenas um entre vários exemplos que levantam dúvidas sobre a real aplicação dos fundos do BAD. A ausência de obras, melhorias ou formação no terreno dá força à hipótese de que parte do financiamento internacional pode estar a alimentar projetos fantasmas.
A investigação convida à reflexão sobre como o dinheiro destinado ao desenvolvimento está a ser utilizado — e, sobretudo, quem está (ou não) a beneficiar com esses recursos. Em tempos em que a transparência e a boa governança são cada vez mais exigidas pela sociedade civil, casos como o de Bobisi tornam-se emblemáticos da necessidade urgente de auditorias independentes e maior fiscalização sobre os fundos de desenvolvimento.