Uma investigação em curso revelou possíveis irregularidades em um contrato milionário para a compra de viaturas de combate a incêndios em Angola. O caso, conduzido pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) e pela Procuradoria-Geral da República (PGR), envolve figuras de destaque no Ministério do Interior e expôs uma teia complexa de suspeitas de má gestão de recursos públicos.
O ponto de partida foi a exoneração do Comissário Chefe Manuel Lutango, antigo Comandante do Serviço de Proteção Civil e Bombeiros, afastado do cargo por decisão do Presidente João Lourenço, também Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas, no último dia 17 de abril. A medida veio após a identificação de indícios sérios de má conduta administrativa.
De acordo com informações levantadas pela investigação, o então ministro do Interior, Eugénio César Laborinho, teria aprovado a aquisição de apenas 12 veículos especializados, apesar de o plano original prever a compra de 35 unidades — um projeto avaliado em mais de 400 milhões de dólares. A disparidade entre o que foi planejado e o que foi efetivamente entregue levantou sinais de alerta.
As suspeitas apontam para a ex-diretora de Planeamento e Finanças do Ministério do Interior, Maria Adelaide Coelho Pires de Almeida, como uma das principais figuras na coordenação de um possível esquema fraudulento. Investigações indicam sua ligação com entidades estratégicas como a Direção Nacional do Tesouro e o Tribunal de Contas, sugerindo a existência de uma rede mais ampla de favorecimento ilícito.
Outros nomes mencionados no processo incluem o ex-secretário de Estado para o Asseguramento Técnico, Carlos Albino, e o atual diretor dos Serviços Prisionais, Bernardo do Amaral Gurgel. Ambos estariam relacionados a transações suspeitas e ao uso indevido de fundos públicos em operações ligadas à Proteção Civil.
Segundo fontes ligadas à Procuradoria, contas operacionais do Corpo de Bombeiros teriam sido utilizadas para movimentar grandes somas de dinheiro, sendo investigadas pela Unidade de Informação Financeira (UIF) por possível envolvimento em crimes financeiros.
Um relatório preliminar já foi encaminhado ao atual ministro do Interior, Manuel da Conceição Homem, apontando indícios claros de corrupção e tráfico de influência. Com base nesses dados, novas exonerações podem ocorrer nos próximos dias — entre elas, a possível destituição de Bernardo Gurgel.
O caso continua sob investigação, com expectativa de novos desdobramentos que poderão trazer à tona mais detalhes sobre como os recursos destinados à segurança e proteção civil foram supostamente desviados. A população aguarda respostas claras e medidas firmes por parte das autoridades responsáveis.