Nas últimas semanas, tem ganhado força dentro dos bastidores do MPLA a possibilidade de o Congresso Ordinário previsto para 2026 não se realizar. Informações provenientes do seio do Comité Central indicam que o Presidente João Lourenço estaria a favor do adiamento do encontro partidário, numa estratégia que estaria a ser impulsionada por figuras do seu círculo mais próximo.
O Congresso, que tradicionalmente serve para renovar os órgãos diretivos do partido e eleger uma nova liderança, poderia enfrentar mudanças profundas caso se concretize essa intenção. A leitura de analistas e membros do próprio partido é clara: evitar um processo eleitoral interno com múltiplas candidaturas pode abrir caminho para que o sucessor do Presidente seja indicado diretamente por ele, sem a pressão de uma disputa democrática.
Além dessa movimentação, outra ação silenciosa do chefe de Estado reforça o clima de concentração de poder. No dia 11 de maio, João Lourenço enviou discretamente ao Parlamento uma proposta de alteração que prevê a prorrogação do mandato do Presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, até 2029. Tal medida é vista por muitos como uma forma de manter aliados estratégicos em posições-chave.
Caso o Congresso avance, poderá marcar uma nova etapa na história do MPLA, com a possibilidade inédita de candidaturas diversas. Entre os nomes cogitados nos bastidores destacam-se Higino Carneiro, António Venâncio, Boavida Neto e “Nando” — Fernando da Piedade Dias dos Santos. No entanto, figuras como António Pitra Neto, anteriormente apontado por José Eduardo dos Santos como potencial sucessor, permanecem afastadas da corrida.
Embora não tenha revelado um nome definitivo para a sucessão, João Lourenço já deixou transparecer o desejo de ver um rosto jovem à frente do partido. Esse sinal foi reforçado durante uma reunião do Comité Central, realizada em agosto de 2024. Entre os possíveis nomes especulados estão Adão de Almeida, Mara Quiosa, Manuel Homem e, de forma mais controversa, até mesmo a sua esposa, Ana Dias Lourenço.
Paralelamente, uma sondagem interna encomendada pelo MPLA revelou que Isaac Maria dos Anjos, atual Ministro da Agricultura, figura como um dos governantes com maior aceitação, inclusive entre eleitores da oposição. A sua origem ovimbundu e o estilo conciliador têm sido vistos como trunfos eleitorais numa eventual candidatura.
A situação política também tem gerado fortes críticas. O jornalista e ex-conselheiro do Jornal de Angola, Artur Queiroz, traçou um panorama sombrio: “A dois anos do fim do mandato de João Lourenço, tudo tresanda a podridão”, afirmou, defendendo uma retirada imediata do apoio político ao Presidente por parte da direção do MPLA. Para ele, a liderança do partido deveria ser entregue ao Bureau Político até o próximo Congresso, como forma de preservar a credibilidade e evitar um declínio semelhante ao vivido pela FNLA.
À medida que 2026 se aproxima, o cenário político angolano permanece incerto e cada vez mais polarizado. Resta saber se o MPLA optará por manter a rota do controle centralizado ou se dará espaço à renovação democrática que muitos exigem.