Luanda foi palco de mais um episódio preocupante envolvendo repressão a protestos pacíficos. De acordo com o Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), mais de 50 estudantes foram detidos pela Polícia Nacional enquanto participavam de uma marcha que reivindicava melhorias no sistema de educação.
António Cahebo, secretário da área jurídica do MEA, confirmou que entre os detidos está Joaquim Lutambi, vice-líder do movimento. Além dos estudantes, pelo menos quatro jornalistas que cobriam o protesto também foram presos temporariamente e liberados posteriormente.
Testemunhas relataram que a polícia recorreu à força para dispersar os manifestantes, agredindo alguns jovens e obrigando-os a entrar em viaturas policiais. O local da concentração foi rapidamente desmobilizado pelas autoridades.
Apesar da repressão, um pequeno grupo de estudantes insistiu em levar adiante a sua manifestação. Seguiram até a sede do Governo Provincial de Luanda, onde conseguiram ler em público o manifesto preparado para o ato. Empunhando cartazes com frases como “Merenda escolar é um direito para as crianças”, “Queremos livros nas escolas” e “Executivo do MPLA rouba os cofres para poder endividar”, os estudantes denunciaram a má gestão de recursos públicos destinados à educação.
Durante a leitura do manifesto, os jovens criticaram o Governo do MPLA, questionando como milhões de kwanzas são gastos em apoio a partidos políticos enquanto escolas carecem de materiais básicos. Eles também exigiram a exoneração da ministra da Educação, Luísa Grilo, e do governador provincial de Luanda, Luís Nunes, responsabilizando-os pelas falhas na garantia do direito à educação.
Após a manifestação, a polícia voltou a agir, pedindo a dispersão imediata dos participantes.
O repórter da DW África, Borralho Ndomba, que acompanhava a marcha, também teve um momento tenso com a polícia. Ele foi informado de que não poderia permanecer dentro do perímetro de segurança, e após o fim da sua transmissão ao vivo, acabou sendo detido. Seus equipamentos, incluindo o celular e o tripé, foram confiscados temporariamente. Ndomba relatou que ficou sob custódia por cerca de 15 minutos, foi interrogado e, posteriormente, liberado.
O episódio reforça a crescente preocupação com as liberdades civis em Angola, num contexto em que manifestações pacíficas continuam a ser reprimidas.