Ursula von der Leyen completou recentemente os primeiros 100 dias de seu segundo mandato à frente da Comissão Europeia. Durante uma conferência de imprensa de uma hora, ela compartilhou suas reflexões sobre os desafios enfrentados pela União Europeia e as ações necessárias para garantir um futuro mais forte e seguro para o continente. As palavras da Presidente da Comissão revelaram uma visão clara sobre os novos tempos e os obstáculos que precisam ser superados, especialmente em relação à defesa e à posição da Europa no cenário internacional. A seguir, estão os principais pontos dessa conferência.
1. A Relação com os EUA: Uma Aliança Complicada, Mas Essencial
A relação transatlântica foi uma das questões mais discutidas nos primeiros dias do mandato de Ursula von der Leyen. A eleição de Donald Trump e a sua postura agressiva em relação à União Europeia levantaram preocupações, especialmente com a retirada de apoio militar à Ucrânia e o risco de negociações isoladas com Moscovo. No entanto, von der Leyen destacou que, apesar das fricções, os EUA continuam a ser um aliado essencial para a Europa. Ela ressaltou a necessidade de fortalecer a defesa europeia e reduzir a dependência dos EUA, algo que Trump sempre criticou. Para von der Leyen, a aliança transatlântica é importante, mas a Europa precisa assumir mais responsabilidade pela sua própria segurança.
2. A Busca por Novos Parceiros Globais
A busca por novos aliados tem sido uma prioridade para von der Leyen. Durante a conferência, a Presidente destacou a importância de diversificar as parcerias, especialmente no campo da defesa. Ela mencionou o Reino Unido e a Noruega como parceiros próximos que podem ajudar a reforçar a segurança da Europa, assim como outros países como a Turquia, que, apesar das divergências, tem um papel importante na segurança do continente. Além disso, von der Leyen se mostrou otimista com as novas relações comerciais com países como México, Suíça e Malásia, que são vistas como alternativas estratégicas para reduzir dependências externas, como aconteceu com o fornecimento de energia da Rússia.
3. A Defesa Europeia: Novas Iniciativas e Desafios
A defesa tem sido uma questão crucial nos primeiros dias de von der Leyen no poder. Um dos principais pontos abordados foi o plano Rearm Europe, que visa mobilizar até 800 bilhões de euros para modernizar e reforçar as forças armadas da União Europeia nos próximos anos. Para financiar esse projeto, a Comissão Europeia poderá contrair empréstimos, algo que gerou debate sobre a possibilidade de uma dívida comum para a defesa, algo que von der Leyen inicialmente se mostrou reticente, mas que agora não descarta, dependendo da evolução da situação.
4. A Preferência pelo “Buy European”
Um tema central no debate sobre a defesa é onde o dinheiro deve ser investido. Atualmente, cerca de 80% do equipamento militar da UE é adquirido de fornecedores fora do bloco, especialmente de empresas americanas. Diante disso, von der Leyen manifestou sua preferência por um plano de “Buy European”, ou seja, priorizar a compra de produtos de defesa fabricados dentro da União Europeia. A França tem pressionado por essa política para fortalecer a indústria europeia, enquanto países como a Polônia e os Estados Bálticos defendem uma abordagem mais pragmática, priorizando a rapidez na entrega dos equipamentos. Esse debate deverá se intensificar nas negociações sobre o plano de rearmamento.
5. A Criação do “Colégio de Segurança”
Como parte de seus esforços para garantir a segurança da União Europeia, von der Leyen anunciou a criação do Colégio de Segurança, uma iniciativa para melhorar a colaboração entre os Comissários da Comissão Europeia e os serviços de inteligência sobre ameaças globais. Esse colégio se reunirá regularmente para discutir questões de segurança, abrangendo desde a cibersegurança até a migração e o comércio. Para von der Leyen, é essencial mudar a mentalidade da UE, passando de uma abordagem reativa para uma mentalidade de preparação, antecipando ameaças e reforçando a segurança coletiva.
6. A Persistência no Apoio à Ucrânia
Apesar das tensões com os EUA e a crescente complexidade das relações internacionais, a Ucrânia continua a ser uma prioridade para Ursula von der Leyen. A líder da Comissão Europeia reafirmou o compromisso da UE com o país, destacando a importância do apoio militar contínuo e da ajuda financeira para a reconstrução da Ucrânia. Von der Leyen também ressaltou que, embora a adesão da Ucrânia à NATO não seja possível no momento devido à oposição de países como os EUA e a Hungria, a melhor garantia de segurança para o país seria um exército ucraniano bem equipado e funcional. A Presidente se comprometeu a continuar a trabalhar ao lado de Kyiv, buscando soluções conjuntas com os seus aliados europeus.
Os primeiros 100 dias de Ursula von der Leyen à frente da Comissão Europeia foram marcados por uma análise detalhada dos desafios e das oportunidades que a Europa enfrenta. A crise na Ucrânia, as tensões transatlânticas e a necessidade urgente de reforçar a defesa do continente são questões centrais, mas a líder da Comissão deixou claro que a União Europeia precisa agir com mais coragem, assumir a responsabilidade pela sua própria segurança e buscar alianças estratégicas fora da sua zona de conforto. O futuro da Europa, segundo von der Leyen, depende de sua capacidade de inovar, de ser autossuficiente e de fortalecer os laços dentro do bloco e com o resto do mundo.