Angola, uma nação rica em recursos naturais e com uma história marcada por desafios e superações, enfrenta atualmente uma crise silenciosa que ameaça comprometer anos de progresso. A razão? A crescente dependência de ajuda externa, em particular da USAID, a agência de ajuda dos Estados Unidos. Este vínculo que parecia ser uma parceria de crescimento agora coloca o país à beira de uma catástrofe humanitária.
A decisão dos Estados Unidos de interromper abruptamente o financiamento de programas sociais essenciais em Angola gerou um impacto devastador. Com milhões de vidas diretamente ligadas a esses recursos, a suspensão de apoio coloca em risco projetos vitais, como o controle da malária e o tratamento da desnutrição grave. Programas que já estavam beneficiando dezenas de milhares de crianças em áreas como Huíla e Benguela enfrentam a ameaça de colapso. O destino de 41.000 crianças tratadas por desnutrição grave está, neste momento, em suspense.
A situação não é menos dramática no plano estratégico do governo angolano. O Plano Nacional de Desenvolvimento “Angola 2050” (PND 2023-2027), com suas ambiciosas metas de saúde, corre o risco de se desintegrar. O objetivo de reduzir a mortalidade infantil de 69 para 51 por 1.000 nascidos vivos até 2027, uma meta crucial para o futuro do país, agora parece um sonho distante, devido à falta de recursos financeiros.
Mas, o que levou Angola a essa situação? A dependência da ajuda americana foi, de certa forma, um processo gradual e estrategicamente desenhado. Desde 1996, a USAID tem investido em áreas vitais como saúde, agricultura, educação, e mais recentemente, na promoção da democracia e desenvolvimento do setor privado. Cada uma dessas intervenções amarrava o país a um ciclo de dependência, onde a soberania nacional se viu constantemente ameaçada por interesses externos.
Hoje, programas como o de reorganização do comércio interno e incentivo à exportação enfrentam sérios riscos de paralisia, e o indicador de segurança alimentar, que deveria alcançar 113% até 2027, corre o risco de se tornar apenas mais uma meta no papel. O país, em vez de se fortalecer através de suas próprias políticas e recursos, ficou cada vez mais refém de um parceiro externo que pode decidir interromper esse fluxo de recursos a qualquer momento.
A situação exige uma reflexão profunda sobre o futuro de Angola e da África como um todo. A dependência de ajuda externa já não parece ser uma solução sustentável. Talvez seja hora de rever a abordagem em relação à extração e comercialização dos recursos naturais, com foco no fortalecimento da economia interna e na criação de um sistema que não dependa da boa vontade de potências estrangeiras. O desenvolvimento soberano precisa ser mais do que um discurso; precisa ser uma realidade tangível.
O futuro de Angola não está claramente delineado, mas é certo que a era da dependência de recursos externos deve chegar ao fim. A nação precisa agora se voltar para dentro, encontrar soluções baseadas em sua própria engenhosidade e determinação e buscar um novo caminho que não dependa da generosidade de países como os Estados Unidos. A responsabilidade de definir o próprio destino está, agora, nas mãos do povo angolano.