O envolvimento de João Lourenço, Presidente de Angola, na mediação do conflito entre a República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda tem sido um tema de discussão nos últimos tempos. Embora Angola não tenha uma influência direta sobre o Movimento 23 de Março (M23), grupo rebelde que está no centro da crise no Kivu Norte, Lourenço continua a se posicionar como um mediador essencial. Mas qual o verdadeiro interesse de Angola nessa mediação, e o que pode estar por trás dessa estratégia?
A tensão entre a RDC e Ruanda aumentou com a escalada do conflito na região do Kivu Norte, onde o M23 tem avançado em sua ofensiva. A ONU confirmou que o M23 é apoiado por Ruanda, o que agrava ainda mais a situação. Recentemente, os rebeldes tomaram a cidade de Masisi, um dos pontos mais críticos da região. Esse ataque aconteceu justamente enquanto Angola estava trabalhando para normalizar as relações políticas entre a RDC e Ruanda, em uma tentativa de encontrar uma solução pacífica para o conflito.
João Lourenço se posicionou contra a ação, qualificando-a de irresponsável e acusando o M23 de violar o cessar-fogo em vigor desde agosto de 2024. No entanto, especialistas apontam que Angola enfrenta desafios consideráveis nessa mediação, já que o M23 nunca teve contato direto com o país e não tem compromissos com o governo angolano.
Em entrevista à DW África, o jornalista angolano José Gama comentou sobre a complexidade da mediação de Angola, destacando que o processo envolve dois mediadores principais: Angola e o Quênia. Enquanto o Quênia lida diretamente com o M23 e a RDC, com o objetivo de terminar o conflito, Angola tem se concentrado nas relações diplomáticas entre a RDC e Ruanda. Gama destacou que Angola não pode exigir do M23 o cumprimento de um acordo de cessar-fogo do qual o grupo rebelde não participou, o que coloca o país em uma posição delicada na mediação.
A tentativa de Angola de se posicionar como mediadora, mesmo sem uma relação direta com os principais envolvidos no conflito, levanta questões sobre a eficácia de suas ações. Muitos se perguntam qual o verdadeiro papel de Angola nesse processo e se o país está realmente conseguindo resultados concretos após mais de três anos de esforços.
Segundo Gama, a insistência de João Lourenço na mediação pode ser explicada por sua busca por legitimidade no cenário internacional. Ao se posicionar como “campeão da paz” e tentar solucionar o conflito entre a RDC e Ruanda, Lourenço busca reforçar sua imagem tanto nacional quanto internacionalmente. Esse esforço não se limita à diplomacia externa, mas também está relacionado com a política interna angolana.
Com a perspectiva de um possível terceiro mandato, João Lourenço pode estar utilizando sua atuação na mediação como uma forma de garantir apoio internacional e reforçar a ideia de que sua permanência no poder é justificada pela aceitação que tem no cenário global. A busca por legitimidade internacional pode ser vista como um movimento estratégico para angariar respaldo tanto dentro quanto fora do país.
Embora a mediação de Angola no conflito entre a RDC e Ruanda não tenha gerado resultados concretos até agora, ela continua a ser uma parte importante da estratégia de João Lourenço para fortalecer sua imagem no cenário internacional. O interesse de Angola vai além da simples resolução do conflito; trata-se também de um esforço para garantir legitimidade externa, que possa ser utilizada em benefício da política interna, especialmente com a aproximação de um possível novo mandato.
No entanto, a questão central permanece: qual é o verdadeiro papel de Angola nesse conflito? A mediação angolana pode, de fato, desempenhar um papel significativo, ou será apenas uma tentativa de João Lourenço de se afirmar como um líder globalmente respeitado? O futuro dirá se essa estratégia será eficaz ou se Angola precisará reavaliar sua abordagem diante de um conflito complexo e multifacetado.