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HomeÁFRICAVenâncio Mondlane: "Não posso estar protegido quando o povo é massacrado"

Venâncio Mondlane: “Não posso estar protegido quando o povo é massacrado”

Após quase três meses fora de Moçambique, Venâncio Mondlane, o candidato presidencial apoiado pelo partido PODEMOS, retornou ao país em um clima de tensão política. Sua chegada a Maputo, nesta quinta-feira, foi marcada por fortes medidas de segurança e bloqueios nas vias de acesso ao aeroporto, além de disparos nas proximidades, refletindo a delicada situação política que se vive no país. O que parecia ser apenas o retorno de um candidato presidencial, tornou-se um símbolo de resistência e um ponto de virada na contestação política pós-eleitoral.

Em declarações à imprensa logo após sua chegada, Mondlane explicou que tinha três objetivos principais com o seu regresso. O primeiro deles foi romper com a narrativa de sua ausência, afirmando que está presente e disponível para negociar e dialogar, desafiando os rumores que apontavam para uma distância entre ele e o povo moçambicano. Para Mondlane, sua presença era essencial para dissipar qualquer dúvida sobre seu comprometimento com a luta política no país.

O segundo objetivo foi denunciar a violência que tem assombrado Moçambique, destacando o que considerou ser uma estratégia de “genocídio silencioso” por parte do regime. Segundo ele, o país está sendo palco de sequestros, assassinatos e o surgimento de valas comuns com supostos apoiantes de sua candidatura. Mondlane ressaltou que, enquanto o povo é massacrado, ele não pode permanecer seguro e protegido, principalmente sabendo que muitos dos seus apoiantes estão sendo alvo de repressão violenta.

Finalmente, o candidato declarou que seu regresso também visava se submeter à justiça. Respondendo às alegações de que estaria foragido devido a acusações, Mondlane afirmou estar disponível para demonstrar, perante os tribunais, quem são os verdadeiros responsáveis pelos crimes cometidos em Moçambique. Sua disposição para enfrentar a justiça foi apresentada como uma forma de enfrentar as acusações que o envolvem e, ao mesmo tempo, expor as falhas do sistema judicial e do regime vigente.

Logo após sua chegada, Venâncio Mondlane fez uma declaração contundente, afirmando-se como o “Presidente eleito pelo povo moçambicano”. Em suas palavras, ele sublinhou que sua eleição não foi validada pelo Conselho Constitucional ou pela Comissão Nacional de Eleições, mas sim pelo povo, que, segundo ele, manifestou sua vontade nas urnas. Esse posicionamento reafirma sua intenção de liderar a oposição ao governo atual, desafiando a legitimidade das autoridades eleitorais que proclamaram outro vencedor.

O regresso de Mondlane não se deu de forma tranquila. No momento da chegada ao Aeroporto Internacional de Maputo, as forças de segurança estavam em alerta máximo, com bloqueios nas estradas e um intenso policiamento ao redor do local. Além disso, houve relatos de disparos nas proximidades, o que aumentou ainda mais a sensação de tensão no momento. A chuva forte, que também afetou a cidade, causou inundações, tornando o transporte para o aeroporto ainda mais difícil, com autocarros sendo usados para levar as pessoas até as instalações aeroportuárias.

A situação, marcada pela repressão das autoridades, não impediu que Mondlane fosse recebido por seus apoiantes, que, mesmo em meio à forte vigilância policial, se concentraram nas proximidades do aeroporto, demonstrando apoio ao candidato.

Venâncio Mondlane aproveitou sua chegada para anunciar o início de uma nova fase de contestação política pós-eleitoral, chamada “Ponta de Lança”. Segundo ele, os resultados das eleições de 9 de outubro de 2024, proclamados pelo Conselho Constitucional, não são válidos e ele continuará a liderar a oposição contra o regime. Em uma fala cheia de coragem e determinação, Mondlane afirmou: “Se quiserem-me assassinar, assassinar. Se quiserem prender-me, prendam. Sei que, na minha queda, a fúria popular que se vai verificar em Moçambique não terá comparação com a história de África e de Moçambique.”

Essas declarações refletem o tom combativo de Mondlane, que se vê não apenas como um opositor, mas como o líder legítimo eleito pelo povo, pronto para enfrentar as adversidades e desafiar as instituições que considera ilegítimas.

O retorno de Venâncio Mondlane a Moçambique marca um ponto crucial na política do país. Sua disposição para enfrentar a violência e a injustiça, bem como sua firme crença de que é o legítimo vencedor das últimas eleições, coloca-o como uma figura central na oposição ao regime atual. O clima de repressão e perseguição política que se observa nas ruas de Maputo é um reflexo das profundas divisões políticas que atravessam Moçambique neste momento. Enquanto Mondlane se prepara para liderar a contestação, a população e as autoridades enfrentam o desafio de lidar com uma situação cada vez mais tensa e polarizada.

O que acontecerá nos próximos dias e meses será decisivo não apenas para o futuro de Mondlane, mas para o destino político de Moçambique como um todo.