As recentes rebeliões em prisões de Moçambique têm chamado atenção por suas proporções alarmantes, levantando questionamentos sobre as circunstâncias dessas fugas. A situação, marcada por evasões em múltiplas províncias, alimenta especulações sobre possíveis motivações e responsáveis.
Na última quarta-feira (25/12), um episódio emblemático ocorreu na Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, onde 1.534 reclusos conseguiram escapar, conforme informou o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael. Enquanto o governo associa os eventos a manifestações e vandalismos pós-eleitorais, analistas sugerem que o caso apresenta aspectos “estranhos” e “mal explicados”.
Muhammad Yassine, acadêmico e político moçambicano, expressou estranhamento pela ausência de alertas ou relatos de confrontos na prisão, considerando a segurança reforçada do local. “Como mais de 1.500 pessoas escapam de uma prisão de alta segurança sem que haja qualquer relato de violência contra guardas ou segurança interna? Isso é muito incomum”, afirmou.
O evento resultou em mais de 40 vítimas mortais, embora os números exatos ainda sejam imprecisos. O Comando-Geral da Polícia de Moçambique afirmou que a fuga foi premeditada, responsabilizando manifestantes envolvidos em atos de vandalismo.
Alguns analistas, como Calton Cadeado, concordam que os atos de vandalismo ligados às manifestações pós-eleitorais desempenharam um papel na fuga dos presos. Segundo ele, “está claro que as manifestações foram instrumentalizadas para criar desordem”. No entanto, Cadeado destaca que a situação fugiu ao controle dos organizadores dos protestos.
Já Muhammad Yassine levanta uma outra hipótese, sugerindo que a fuga pode ter sido deliberadamente orquestrada por atores com poder para desviar a atenção das manifestações contra a crise eleitoral. “Essa desordem, politicamente, não beneficia quem está no poder, mas também prejudica quem busca legitimidade através do caos”, avaliou.
Apesar das graves consequências, até o momento não houve punições ou demissões de autoridades ligadas ao sistema penitenciário. Para Yassine, essa inércia do governo é preocupante e levanta ainda mais suspeitas.
Por outro lado, Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial, acusou as autoridades de deliberadamente facilitarem as fugas para manipular a opinião pública e desviar o foco das fraudes eleitorais. Em uma publicação no Facebook, Mondlane afirmou que as fugas fazem parte de “técnicas de manipulação de massas”, sacrificando prisioneiros para proteger interesses políticos.
Enquanto as investigações prosseguem, Moçambique enfrenta dias caóticos, com protestos nas ruas de Maputo e em outras cidades. Saques, vandalismos e barricadas intensificam a crise social e política que assola o país. As explicações contraditórias das autoridades apenas ampliam as dúvidas em torno das fugas e suas reais motivações.
As rebeliões nas prisões e as manifestações pós-eleitorais refletem um momento de extrema tensão em Moçambique. A falta de respostas claras e a suspeita de manipulação política deixam a população em um estado de incerteza e desconfiança. A comunidade internacional observa atentamente, enquanto os moçambicanos aguardam por justiça e estabilidade.