Luanda – Na próxima semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realizará uma visita a Angola, um momento esperado com grande expectativa, especialmente pela classe política e oposição do país. Em um contexto de final de mandato para Biden, o general Abílio Kamalata Numa, ex-secretário-geral da UNITA, se mostrou cético quanto ao impacto significativo da visita para Angola. O general afirmou que a chegada do presidente norte-americano ao país pode trazer alguns benefícios, mas esses não parecem ser suficientes para resolver as questões estruturais que afligem os angolanos.
Para Kamalata Numa, um dos principais críticos do governo de João Lourenço, a visita de Biden não trará soluções duradouras para os problemas do país, como a pobreza, o desemprego, especialmente entre os jovens, e a grave crise alimentar que atinge grande parte da população. Ele ressaltou que, após a partida de Biden, a situação dos angolanos continuará a mesma, sem mudanças significativas.
A oposição angolana, representada pela UNITA, espera que Biden, enquanto líder de uma das maiores democracias do mundo, aproveite a oportunidade para se reunir com as lideranças opositoras, como o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior. Kamalata Numa considera fundamental que o presidente dos Estados Unidos se encontre com os principais representantes da oposição, pois isso fortaleceria a credibilidade de sua visita. Caso contrário, o general vê isso como uma falha significativa, considerando que Biden é o representante de uma nação democrática, enquanto Angola vive sob um regime autoritário com desafios no campo da liberdade e da democracia.
Kamalata Numa também expressa suas dúvidas sobre o impacto real da visita. Ele acredita que, com o término do mandato de Biden, o efeito das políticas e acordos assinados pode ser limitado, especialmente com a iminente possibilidade de uma mudança no comando da Casa Branca, caso Donald Trump seja reeleito. A mudança de administração nos Estados Unidos pode significar a revisão ou até o abandono de muitos compromissos que, até então, foram firmados com o governo de Angola.
Enquanto isso, o presidente angolano, João Lourenço, está claramente interessado em tirar proveito político da visita de Biden. Para Lourenço, este é um momento de visibilidade internacional, que pode fortalecer sua imagem, especialmente considerando as questões internas do país. No entanto, Kamalata Numa é claro ao afirmar que a visita de Biden não resolverá os problemas do povo angolano. A fome, o desemprego e a falta de oportunidades continuarão a assolar a população, independentemente da presença de um líder estrangeiro por dois dias no país.
Outro ponto importante que está sendo discutido com a visita de Biden é a questão da cooperação militar entre os Estados Unidos e Angola. Kamalata Numa, que foi uma das figuras chave na criação das Forças Armadas Angolanas, expressa preocupações sobre a atual direção das forças armadas do país. Ele aponta que, embora o governo angolano esteja buscando parcerias com diferentes países, incluindo a Rússia, a China e o Ocidente, há uma falta de uma doutrina clara para as Forças Armadas. Para ele, seria desejável que Angola adotasse uma abordagem mais ocidental em termos de formação e equipamentos militares, em vez de depender de múltiplos fornecedores com diferentes orientações estratégicas.
Em suma, a visita de Joe Biden a Angola será uma oportunidade para discutir questões econômicas e militares, mas a falta de uma agenda clara e o contexto político em Angola podem fazer com que os benefícios para a população angolana sejam limitados. O presidente dos Estados Unidos pode até contribuir para algumas parcerias ou acordos, mas, como aponta o general Kamalata Numa, os problemas estruturais do país exigem soluções mais profundas e de longo prazo que vão além das visitas diplomáticas de líderes estrangeiros.