Moçambique está vivenciando uma escalada de tensões políticas, com protestos pós-eleitorais que tomam o centro das atenções do país. A semana terminou com mais uma etapa de manifestações, e o candidato presidencial Venâncio Mondlane prometeu continuar a luta contra o que considera ser uma “fraude eleitoral”. As manifestações começaram no início da semana e, apesar de já estarem se tornando uma rotina desde as eleições gerais de 9 de outubro, continuam a mobilizar milhares de moçambicanos.
As manifestações de sexta-feira, 29 de novembro, terminaram com o som do hino nacional e de África, um símbolo de resistência e unidade. Nos dias anteriores, Venâncio Mondlane convocou três dias consecutivos de protestos, nos quais muitos moçambicanos atenderam ao seu apelo, fechando as principais vias do país por cerca de oito horas e interrompendo totalmente o trânsito.
Mondlane promete, para o próximo sábado, revelar novas informações sobre a fraude eleitoral que, segundo ele, foi constatada nas eleições de outubro. Isso só aumenta a expectativa de que a crise política e social em Moçambique se aprofunde ainda mais nos próximos dias.
Para o analista político Wilker Dias, a situação não deve se acalmar tão cedo. Em entrevista à DW África, ele afirmou que não acredita em uma trégua nos próximos dias, dada a polarização crescente. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que está no poder há mais de 50 anos, tem a responsabilidade de tentar reduzir a tensão, mas, até agora, não deu passos significativos para isso.
De um lado, a FRELIMO, através do governo, adota uma estratégia de “vencer pelo cansaço”, enquanto, do outro, Venâncio Mondlane pressiona constantemente por uma mudança no cenário político. Segundo Dias, essa polarização pode ser perigosa, aumentando o risco de mais confrontos e mortes no país.
A tentativa de diálogo, promovida pelo Presidente Filipe Nyusi, também não teve sucesso. Apenas três dos quatro candidatos presidenciais compareceram à reunião, e Mondlane, líder da oposição, se recusou a participar. A falta de um consenso sobre um plano de pacificação resultou em mais frustração e mais tensão.
Wilker Dias destaca que, enquanto não houver um diálogo real, a situação em Moçambique só tende a piorar. Para ele, não basta apenas declarar a intenção de dialogar; é necessário criar as condições reais para que esse diálogo aconteça de forma eficaz e construtiva.
Além das tensões políticas, os protestos também estão causando sérios danos à economia moçambicana. Com as principais rodovias bloqueadas, especialmente aquelas que conectam Maputo à África do Sul, o tráfego de camiões de carga foi interrompido, afetando diretamente o comércio internacional. As lojas e várias instituições ficaram fechadas, e a população enfrenta um cenário de crescente incerteza e dificuldades.
Especialistas econômicos alertam que, se a crise não for resolvida rapidamente, os impactos poderão ser devastadores, especialmente para as classes sociais mais vulneráveis. A economia de Moçambique já está em um ponto delicado, e os protestos, se continuarem, podem agravar ainda mais a situação, tornando a recuperação ainda mais difícil.
Diante de um cenário de crescente instabilidade política e econômica, surge uma questão fundamental: até que ponto Moçambique conseguirá suportar essa tensão antes de encontrar uma saída para a paz e a estabilidade? A falta de diálogo efetivo e o agravamento das condições de vida da população deixam claro que o país precisa urgentemente de soluções para evitar um colapso completo. O futuro de Moçambique depende, em grande parte, da capacidade dos líderes políticos de deixarem de lado as disputas e buscar um entendimento que beneficie toda a nação.