Huambo – O título de “Pai da Nação” angolana atribuído ao ex-presidente António Agostinho Neto vem gerando debates intensos em Angola. O general reformado e político da UNITA, Abílio Kamalata Numa, manifestou recentemente sua oposição à imposição deste título, defendendo que o reconhecimento de Neto como o único líder fundador da nação ignora a diversidade histórica e étnica que caracteriza o país.
Em um texto publicado a partir do Huambo, sua cidade natal, Numa argumenta que Angola, com suas várias etnias e realidades culturais, deve alcançar uma unificação natural, sem que títulos sejam impostos para definir a identidade nacional. Segundo ele, essa diversidade foi reconhecida e validada tanto nos Acordos de Alvor, que encerraram o colonialismo, quanto nos Acordos de Bicesse, que estabeleceram a igualdade entre as principais forças políticas do país: FNLA, MPLA e UNITA.
Para Numa, a imposição do título a Neto como “Pai da Nação” desconsidera o papel de líderes de outros movimentos e é uma tentativa de reforçar a narrativa do MPLA como único representante da independência de Angola. Ele destaca que a população e as forças públicas do país são compostas por uma ampla gama de etnias e origens, incluindo os Bakongo, Kimbundu, Umbundu, Lunda-Tchokwe, Nganguela, Nhaneka-Humbi, Kwanhama, além de angolanos brancos. Numa aponta que atribuir o título exclusivamente a Neto seria desconsiderar a contribuição de líderes como Holden Roberto e Jonas Savimbi, que, em sua visão, tiveram papéis igualmente importantes na luta anti-colonial.
O general argumenta que o reconhecimento de Neto como o único “Pai da Nação” divide, ao invés de unir. “Impor essa narrativa é uma tentativa de dividir o povo angolano e não reconhece a diversidade que caracteriza Angola,” afirma Numa, reforçando que tal decisão deveria vir do povo, e não de uma instituição ou partido político.
Para ele, o MPLA deveria, ao invés disso, promover uma consulta popular para ouvir o que os angolanos pensam sobre essa questão. Numa acredita que, caso essa consulta acontecesse, a maioria do povo angolano reprovaria a iniciativa de atribuir a Neto o título exclusivo.
O debate levantado por Numa traz à tona a questão de como a história e os líderes de Angola são lembrados e reconhecidos. Para ele, a luta anti-colonial foi um esforço coletivo de diferentes forças políticas, e o título de “Pai da Nação” não deveria ser exclusivo, mas representar todos que contribuíram para a independência. Sua posição propõe que o reconhecimento da história e dos líderes de Angola seja abrangente, honrando a contribuição de todos e respeitando a pluralidade do país.
Em meio a essas reflexões, o tema da construção de uma identidade nacional verdadeiramente inclusiva permanece um desafio em Angola. Afinal, como aponta o general, a diversidade é uma das maiores riquezas do país, e reconhecer essa multiplicidade pode ser o primeiro passo para uma unidade genuína, sem imposições e com respeito às contribuições de todos.