Luanda – A recente legalização do partido PRA-JA Servir Angola tem gerado debates, com alguns questionando se isso significa o fim da Frente Patriótica Unida (FPU). Para entender essa questão, é necessário revisitar o contexto e propósito tanto da FPU quanto do PRA-JA, e analisar como a legalização impacta o futuro da frente.
O PRA-JA Servir Angola foi fundado em 2 de agosto de 2019, liderado por Abel Chivukuvuku. O partido surgiu como parte do direito constitucional de participação política, conforme garantido pelos artigos 52º e 55º da Constituição angolana. A legalização do partido, após um longo e conturbado processo, representa uma vitória para seus fundadores e uma afirmação da justiça.
A FPU foi criada em outubro de 2021, como uma união política entre a UNITA, o Bloco Democrático (BD), o PRA-JA e membros da sociedade civil. O principal objetivo da frente era garantir uma candidatura única para as eleições de agosto de 2022, com Adalberto Costa Júnior (ACJ) à frente, visando uma mudança de poder.
Esse arranjo político foi pensado como uma **agregação** de forças, ou seja, cada partido manteve sua identidade própria. O PRA-JA e o BD não se diluíram na UNITA, e todos atuaram sob suas bandeiras e símbolos nas atividades conjuntas da FPU, como a recente jornada do Grupo Parlamentar da UNITA na província da Huíla.
A legalização do PRA-JA Servir Angola não representa a morte da FPU. Pelo contrário, fortalece a frente. Com o reconhecimento legal do PRA-JA, a FPU passa a ser composta por três partidos, o que pode impulsionar sua evolução de uma agregação para uma coligação formal. Essa transformação é discutida há muito tempo pelos líderes da FPU, e há consenso sobre a necessidade dessa mudança para as eleições de 2027.
A coligação garantiria maior coesão e salvaguardaria a participação de todos os partidos, especialmente o BD, que, por lei, não pode ficar de fora de duas eleições consecutivas sob o risco de ser extinto. A mudança para uma coligação formal seria também uma estratégia mais eficaz para alcançar a alternância de poder em 2027.
A evolução da FPU para uma coligação depende, em grande parte, da UNITA. O XIV Congresso do partido, que acontecerá em breve, decidirá se a UNITA estará disposta a ceder seus símbolos tradicionais para concorrer como parte de uma coligação, com ACJ como cabeça de lista.
Caso o congresso aprove a coligação, o PRA-JA e o BD se unirão formalmente à UNITA, e a participação de figuras da sociedade civil será ampliada. No entanto, se a UNITA optar por manter sua independência, diferentes cenários poderão se desenrolar:
– UNITA, PRA-JA e BD poderiam concorrer separadamente;
– O BD e o PRA-JA poderiam formar uma coligação sem a UNITA;
– Ou a UNITA e o PRA-JA poderiam manter a agregação, excluindo o BD.
A legalização do PRA-JA Servir Angola não marca o fim da FPU, mas sim uma nova fase de sua evolução. A frente continuará existindo, com potencial para se fortalecer como uma coligação em 2027, caso as partes concordem. Tudo depende das decisões estratégicas que serão tomadas pela UNITA e seus parceiros nos próximos meses.