Luanda – O ativista angolano Gilson da Silva Moreira, mais conhecido como Tanaice Neutro, ganhou destaque nos últimos dias ao rejeitar uma proposta para pedir perdão público ao Presidente João Lourenço, em troca de sua libertação. Tanaice está detido há um ano e, em um vídeo gravado da prisão, revelou as circunstâncias que envolvem essa oferta.
Segundo o ativista, intermediários do presidente teriam feito a proposta para que ele pedisse desculpas públicas como condição para sua saída da cadeia. No entanto, Tanaice Neutro foi firme em sua decisão de não aceitar. Ele argumenta que quem deve desculpas ao povo angolano é o próprio presidente João Lourenço, por promessas não cumpridas, incluindo a de “melhorar o que está bom e corrigir o que está mal”.
Tanaice também aproveitou a oportunidade para criticar o governo atual, comparando-o ao período de José Eduardo dos Santos. Segundo ele, na gestão de Santos, os angolanos tinham mais oportunidades de trabalho, seja através de empregos formais ou de biscates. Ele ressaltou ainda que a empresária Isabel dos Santos, filha do ex-presidente, oferecia mais empregos que o próprio governo, mas atualmente está sendo perseguida e viu suas empresas fechadas, o que agravou o desemprego no país.
Além de Tanaice Neutro, outros três ativistas também estão detidos: Adolfo Campos, Hermenegildo Victor José (Gildo das Ruas) e Abraão Pedro Santos (Pensador). Os quatro foram presos em setembro de 2023, pouco antes de uma manifestação em apoio aos mototaxistas em Luanda. A condenação inicial foi de dois anos e cinco meses por desobediência e resistência, mas depois as acusações foram alteradas para crimes de ultraje e injúria ao Presidente da República.
A manifestação em questão tinha como objetivo protestar contra as restrições ao trabalho dos mototaxistas nas principais estradas de Luanda. Advogados dos ativistas afirmam que as provas apresentadas não são suficientes para sustentar as acusações, levantando questionamentos sobre a liberdade de expressão e os direitos humanos em Angola. Organizações internacionais, como a Anistia Internacional, têm pressionado pelo fim das detenções e pela libertação dos ativistas.
A recusa de Tanaice Neutro em ceder à exigência de pedir perdão público evidencia sua luta por aquilo que considera ser a verdadeira justiça social em Angola, trazendo à tona debates sobre os rumos do país e os direitos da população.