No dia em que se completa um ano desde o início da guerra no Sudão, líderes europeus reunidos na capital francesa, Paris, pediram mais ajuda para o país, onde milhões de pessoas sofrem diariamente com a violência e a fome.
O conflito já fez pelo menos 14 mil mortos. Diariamente, 20 mil pessoas são deslocadas no país, segundo a Organização das Nações Unidas para as Migrações (OIM).
Segundo a ONU, desde o início dos combates, há um ano, “milhares” de civis foram mortos, feridos, detidos arbitrariamente ou desaparecidos à força. A organização denuncia ataques indiscriminados em zonas densamente povoadas, ataques com motivações étnicas e uma elevada incidência de violência sexual.
Apelo a mais ajuda
Perante a situação humanitária catastrófica que se vive no país africano, a Alemanha, a França e a União Europeia (UE) apelaram nesta segunda-feira (15.04) à comunidade internacional para que preste mais apoio, urgentemente, à população da região.
“Se não tomarmos medidas maciças como comunidade mundial, o Sudão enfrentará uma fome terrível”, disse a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, na conferência de ajuda ao país do nordeste de África, realizada hoje, em Paris.
“Na pior das hipóteses, um milhão de pessoas poderão morrer de fome este ano”, disse a ministra alemã.
Mas “estamos a deixar claro hoje que não vamos perder de vista o sofrimento das pessoas no Sudão”, acrescentou Baerbock.
Em fevereiro, as Nações Unidas orçamentaram 3,8 mil milhões de euros para ajuda de emergência no Sudão e nos campos de acolhimento na região. Porém, de acordo com a ministra alemã, apenas 6% do montante necessário foi disponibilizado até à data.
Segundo Baerbock, a Alemanha deverá disponibilizar ainda este ano mais 244 milhões de euros para o Sudão e seus vizinhos. Também a França prometeu 110 milhões de euros para o ano em curso e a Comissão Europeia cerca de 355 milhões de euros.
Stéphane Séjourné, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, afirmou que os sudaneses afectados também se tornaram vítimas do esquecimento. “Hoje estamos a colocar na ordem do dia uma crise esquecida”, disse.
Ao final da conferência nesta segunda-feira, o Presidente francês Emmanuel Macron anunciou que Paris e os seus aliados tinham recolhido promessas de mais de 2 mil milhões de euros (2,1 mil milhões de dólares) para ajudar a aliviar a crise humanitária no Sudão.
Os seus comentários surgiram no final do encontro que reuniu diplomatas de topo da França, da Alemanha e da União Europeia em Paris, onde defenderam o aumento do financiamento para o Sudão no primeiro aniversário do conflito.
Também o Reino Unido decretou hoje sanções a empresas que apoiam as atividades dos dois grupos militares que desencadearam um conflito armado no Sudão há um ano, reiterando o apelo a um cessar-fogo.
Cessar-fogo
O Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política de Segurança, Josep Borrell, apelou a um cessar-fogo no Sudão e ao acesso de apoio humanitário à população.
Depois de uma intervenção na conferência em Paris sobre o conflito sudanês, Borrell considerou, na rede social X (antigo Twitter), que a situação é a “pior crise humanitária no mundo”.
Josep Borrell pediu um “compromisso das partes” envolvidas no conflito “para a cessação das hostilidades” e a criação “de uma solução de paz duradoura”. Apelou ainda a uma “trégua humanitária” que possibilite às organizações no terreno operarem “sem constrangimentos”.
Perante os participantes nesta conferência, o chefe da diplomacia europeia pediu consequências para os responsáveis pelo conflito, através de sanções, e um reforço da coordenação para mediar o conflito e deixar “menos espaço para manobras dos beligerantes”.
A guerra no Sudão começou em 15 de abril de 2023 e foi desencadeada pela rebelião do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido contra as Forças Armadas sudanesas, dando início a um conflito que envolveu a capital, Cartum, e outras partes do país.
Nos últimos doze meses, a luta pelo poder entre o governante de facto do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, e o seu então adjunto, Mohamed Hamdan Daglo, desencadeou aquela que é atualmente a maior crise de refugiados do mundo. Segundo estimativas, um em cada oito refugiados em todo o mundo vem do Sudão.