Diplomatas e funcionários de embaixadas norte-americanas sofreram episódios graves de enxaquecas, náuseas e até lesões cerebrais. Relatos começaram a criar suspeitas em 2016.
Uma misteriosa doença sofrida nos últimos anos pelo pessoal diplomático, político e de segurança dos Estados Unidos, batizada como “síndrome de Havana” é alegadamente causada por atividades secretas promovidas pela Rússia, aponta uma investigação realizada pelo Pentágono. A causa agora avançada para a doença, assim chamada devido à sua incidência inicial em Cuba, contradiz a versão oficial de Washington.
Dezenas de pessoas sofreram uma série de sintomas que os especialistas médicos atribuíram a ultrassons ou micro-ondas de origem desconhecida. Os relatos terão começado a criar suspeitas em 2016, quando diplomatas e funcionários de embaixadas norte-americanas em vários países sofreram episódios graves de enxaquecas, náuseas e até lesões cerebrais.
Como se pensou que a origem estaria em Havana, onde houve mais queixas, os Estados Unidos retiraram grande parte do pessoal do país, mas rapidamente começaram a surgir relatos em outros países como a China, a Alemanha, a Rússia, a Austrália e até em Washington.
Embora não tenha sido encontrada, na altura, nenhuma razão plausível para os incidentes, o Congresso norte-americano aprovou, em 2021, a chamada Lei de Havana, que autorizou o Departamento de Estado, a CIA e outras agências governamentais a indemnizar funcionários afetados pela doença durante missões diplomáticas.
Uma investigação publicada em 2023 concluiu que era “muito improvável” que os casos fossem obra de um Estado estrangeiro, embora nenhuma teoria alternativa tenha sido apresentada e esta onda de “incidentes médicos anómalos”. Agora, uma outra investigação, da qual um dos principais responsáveis é o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e que foi hoje publicada pelos órgãos de comunicação social The Insider, Der Spiegel e CBS, refere que a origem da doença está em Moscovo.
O “nexo russo” e as falhas dos EUA
O estudo adianta que, ao contrário do que se pensava, os primeiros casos poderão não ter acontecido em Havana em 2016 mas, sim, antes. “Provavelmente houve ataques dois anos antes, como em Frankfurt, na Alemanha, quando um funcionário do governo dos EUA que trabalhava no consulado local perdeu os sentidos depois de ter sentido ser atingido por uma espécie de feixe de energia”, diz a investigação.
Um dos autores da análise, Greg Edgreen, refere que o “nexo russo” é o denominador comum em todos os casos, sendo que as autoridades russas teriam mesmo recompensado uma unidade dos seus serviços de informações militares, a 29155, pelo seu bom trabalho nesta questão. Membros deste grupo terão estado em todos os locais onde foram relatados ataques, coincidindo também com estes incidentes, afirma a informação jornalística publicada.
De acordo com Edgreen, os próprios investigadores norte-americanos estabeleceram um padrão demasiado exigente para poder lançar uma acusação formal contra Moscovo porque, entre outras razões, isso implicaria enfrentar algumas “verdades inconvenientes”, como a de que os Estados Unidos teriam falhado na proteção do seu pessoal.
O Congresso norte-americano aprovou medidas de apoio às vítimas. Uma delas, identificada como Carrie, contou à CBS como vivenciou o alegado ataque que inicialmente lhe causou desmaios e, depois, problemas de memória e concentração. Esta agente do FBI explica que estava na sua casa, no estado norte-americano da Florida, quando, de repente, sentiu um som alto no ouvido direito e, ao mesmo tempo, a bateria do seu telemóvel começou a inchar, a ponto de partir a caixa do aparelho.
Outro incidente aconteceu em 2023, na Lituânia, durante a cimeira dos líderes da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte).Segundo fontes consultadas pelos meios de comunicação que participaram na investigação, um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA foi atacado. “Isto mostra que não há limites sobre o que Moscovo fará ou atacará e que, se não o confrontarmos, o problema irá piorar”, alertou Edgreen.