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Moçambique: Crianças abandonam a escola por causa da fome severa

A fome provocada por uma seca severa está na origem da desistência de centenas de alunos, no distrito de Tambara, na província de Manica, que decretou alerta laranja este mês.

Fonte: VOA

A população e autoridades estão preocupados com a situação associada ao El Niño. Muitos viram os seus campo de cultivo perdidos.

O governo distrital de Tambara busca parceiros para introduzir lanche escolar, enquanto professores estão em campanha nas comunidades e a incentivar o consumo de frutas silvestres para a retenção dos alunos.

Elsa Tamussene, nove anos de idade, é uma das crianças afetadas. Passa o tempo num repouso forçada, sem nada para comer.

“Ela e outras crianças da aldeia desistiram de ir às aulas por causa da fome. Não há condições de frequentar as aulas, porque tenho medo que ela desmaie lá, se for sem se alimentar”, lamenta Ezequiel Tamussene, o pai da menor.

Aproveitamento escolar em risco

Centenas de crianças como Elsa Tamussene deixaram de frequentar as aulas em Tambara, o distrito que vive a pior seca em duas décadas, e onde milhares de hectares de culturas diversas foram perdidos, ameaçando o aproveitamento pedagógico no presente ano letivo.

Carlota Sankhulane, diretora da Escola Primária Ngondonga, em Tambara, descreve a situação de fome como desoladora, sobretudo nas classes iniciais.

“Nos últimos dias estamos a verificar a fraca participação dos alunos. Há vezes em que sonecam na sala de aula e alegam fome. A criança não fica atenta às aulas, porque ela está a pensar na fome”, diz à VOA Sankhulane, anotando que vários professores estão em campanha para retenção dos alunos.

Ela está a sensibilizar os encarregados de educação a recorrer a frutas e tubérculos silvestres, amplamente consumidos nas aldeias, para assegurar que as crianças não abandonem o ensino.

Sérgio Maene, professor na Escola Primária de Chigosa, diz ter recebido vários pedidos de encarregados de educação para tirar os seus filhos do ensino, porque pretendem se mudar para outras zonas sem fome.

“Estamos num ano muito atípico por causa da fome, a situação da fome é real, há muita fome. Há pais que aproximaram a direção a pedir para saírem com seus filhos para outras zonas baixas para aproveitar a segunda época agrícola”, afirma Maene, receando uma maior escalada de desistência escolar.

Um total de 17.657 alunos frequentam a rede de 42 escolas primárias, básicas e secundárias no distrito de Tambara, no norte de Manica, onde as autoridades governamentais estão a equacionar reintroduzir o lanche escolar.

“Estamos em contacto com parceiros para viabilizar o lanche escolar nas escolas”, diz Samisson Cumbuia, diretor dos Serviços Distritais da Educação, Juventude e Tecnologia.

Cumbuia refere que o governo distrital está a incentivar a população a produzir na segunda época e vender gado para suprir outras necessidades.

Tambara faz fronteira com o distrito de Mgabu, no Malawi, cujo Governo declarou estado de calamidade devido à seca. Tal sucede depois do seu vizinho, a Zâmbia, ter igualmente declarado estado de calamidade e lançado pedido de assistência humanitária urgente.

Um terceiro país, o Zimbabwe, também viu grande parte das suas colheitas dizimadas.

Milhões de pessoas na África Austral dependem dos alimentos que cultivam para sobreviver. O milho, alimento básico da região, foi gravemente afetado pela seca.

El Niño é um fenômeno climático natural e recorrente que envolve o aquecimento da superfície do mar em partes do Oceano Pacífico. Cientistas afirmam que as alterações climáticas exacerbam o cenário.