Para Domingos da Cruz, investigador angolano da Universidade de Zaragoza, a situação em Angola está tão mal que já não há palavras para a descrever, mesmo assim não acredita nesta greve.
Fonte: Publico
Autor de livros como Angola Amordaçada e Direitos Humanos na Era da Incerteza, Domingos da Cruz, ex-preso político do célebre processo dos 15+2, actualmente a residir no Canadá, continua a olhar, a pensar e a reflectir sobre Angola e a luta cívico-política e, talvez por isso, não acredita muito na greve geral desta quarta-feira no seu país. Para o investigador da Universidade de Zaragoza, no historial de greves angolanas, as greves acabam suspendidas sem que as reivindicações sejam cumpridas pelo poder, que tende a desconfiar do papel dos sindicatos e a aliciar os líderes sindicais.
Acha que esta greve geral em Angola vai ter impacto?
Não estou certo do que poderá resultar da greve, se poderá ter um impacto positivo ou se tudo se irá manter como está, mas de uma coisa tenho a certeza, olhando para o modus operandi dos sindicatos angolanos no passado: sempre que anunciaram greves, infelizmente, quando vão negociar, saem de lá calados, sem informar os angolanos sobre o que se terá passado e, normalmente, acabam por suspender a greve e aquilo que colocam no caderno reivindicativo nunca que é tido em conta pelo Governo angolano.
Não espera muito, portanto?
Não tenho grande expectativa. Devo dizer, embora com muito cuidado, que tem havido cooptação dos líderes sindicais por parte do Governo. Em vez de dialogar com os sindicatos, como uma força social relevante para o progresso do país em termos de direitos trabalhistas, o Governo olha sempre com suspeição para eles e tende a cooptá-los.
Esta greve é também um reflexo da situação em Angola, da grave crise económica, da desvalorização do kwanza, do aumento do desemprego. Poderemos estar num prenúncio de revolta social?
Não é fácil prever o que os povos podem fazer perante uma situação tão grave quanto a situação social, económica e não só que o país vive, mas, na minha análise, nós não vivemos numa crise recente, os angolanos vivem numa crise profunda que marca quase